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Às seis da tarde o ritual repete-se. Entra gente que saiu do trabalho na zona da Almirante Reis, em Lisboa, para uma cerveja no balcão da Marisqueira do Lis (Recomendado Guia Repsol): fresquíssima, viva, vale o desvio no caminho para casa. Paulo Fernandes, um dos donos, não tem dúvidas em dizer que é a melhor da cidade. A esta hora, a cerveja traz, além do pires de tremoços, a companhia de Manuel Nogueira, “um dinossauro”, diz o patrão sobre o empregado mais antigo desta casa. Chegou aqui dois dias antes da abertura para pôr tudo no lugar e aos 72 anos ainda aqui anda a contar histórias dessa altura: “Esta foi a primeira marisqueira da capital”.
Os três sócios fundadores vieram do Ramiro, alguns números abaixo na mesma avenida, para se estabelecer por conta própria. Em 1973, José Martins, Juan Andion e Joaquim Pereira, o único que de vez em quando ainda aparece por aqui, abriram esta casa para servir imperiais, passarinhos e uns mariscos populares. Em vez de lhe chamarem cervejaria, como se diziam todas as casas deste tipo (do Ramiro à Portugália), tiveram o golpe de marketing de lhe chamar marisqueira.
O espaço era ligeiramente maior e isso ajudava, mas não havia concorrência com a casa onde os três sócios — um na cozinha, outro no balcão e o terceiro nas mesas — fizeram a sua escola. Nem há: “Os nossos fornecedores são os mesmos, antes de irem para ali param aqui e quando precisam de alguma coisa na hora do serviço, vêm aqui pedir”, conta Paulo Fernandes, filho de um dos sócios. Juntamente com João Paulo Pereira e João Carlos Andion, é a segunda geração da Marisqueira do Lis e nunca conheceu outro trabalho.
“Marisqueiras na Almirante Reis é a Marisqueira do Lis e o Ramiro, as outras não têm hipótese, nós temos uma cadência de trabalho imbatível”, atira Paulo Fernandes. A fama faz com que esta casa nunca tenha produto parado durante muito tempo, essencial para manter a qualidade dos mariscos. O volume de refeições dá-lhes a possibilidade de terem, por exemplo, apanhadores de percebes que só trabalham para esta casa — “Na época da apanha compro todo o que posso”, explica o sócio, que aguenta os meses de defeso com este produto cozido e congelado.
Para isto e para os mil litros de cervejas que servem todas as semanas é preciso um pequeno império imobiliário: apenas a sala da entrada é a original e foi alargada nos anos 1990 para ter mais do dobro dos lugares. Por essa altura, os sócios compraram o prédio, ganharam espaço para as câmaras frigoríficas, para um parque de estacionamento para clientes (um luxo no centro da cidade) e uma mezzanine para duas cisternas, as responsáveis por esta cerveja que não dura no copo e que, graças a um serviço malandro, à antiga, está sempre a ser renovada desde que o cliente se senta à mesa até fazer sinal em contrário. Compreende-se: dizer que esta cerveja é refrescante é usar uma palavra gasta, ela é gulosa.
Na sala da entrada, Manuel Nogueira faz a jardinagem de manutenção dos aquários. Em cima de uma cadeira, com um ancinho na mão, apanha as patas partidas das sapateiras e vai-se lembrando dos primeiros dias da Marisqueira. “No dia 26 de janeiro foi a inauguração, foi tudo de borla — o camarão pequeno, o whisky, era pedir. Era para obrigar os convidados a vir dia 27, a pagar”, explica. Outro técnica de vendas era deixar as cascas de amendoins e tremoços junto ao balcão o dia todo, para mostrar a quem passasse que a casa trabalhava muito. “Do lado de lá do balcão eles trabalhavam em cima de uns estrados, para as cascas caírem lá para baixo. Ao final do dia é que limpavamos tudo à pazada”, relembra.
A limpeza era depois das quatro da manhã e foi por causa dessas madrugadas que não abriram no dia 25 de Abril de 1974 — apanharam as informações sobre a revolução desde a primeira hora. Era essencial aproveitar as noites de negócio porque a última sessão do Cinema Lys, mesmo em frente, era às duas da manhã. Era ele que dava nome a tudo quanto estava neste quarteirão — o Restaurante Lis, a Sapataria Lis. Foi-se o cinema, onde agora está uma loja de câmbio, e o último Lis é esta Marisqueira. “Quando abriram, pagaram o investimento que fizeram num ano. A classe média tinha muita força e se calhar comia marisco todas as semanas”, diz Paulo enquanto corta umas fatias do presunto 5 Jotas que aqui servem à entrada.
Desse tempo ficou o hábito do prato do dia ao almoço (arroz de marisco, massinha de garoupa ou bifes) para quem trabalha na zona e que continua a dar o ritmo à marisqueira, do meio dia até às mariscadas de celebração noturna com um prego por sobremesa.
Marisqueira do Lis. Avenida Almirante Reis, 27B, Lisboa. Quarta a Segunda, 12.00-00.00. Telefone: 21 885 0739
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