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Guram Baghdoshvili transformou uma taberna em ruínas num restaurante georgiano

Descubra o restaurante georgiano Karater em Lisboa

Karater: uma viagem à Geórgia - e ao Bairro Alto de outros tempos

08/07/2025

Texto: Clara Silva

Fotografia: Ana Brígida

Guram Baghdoshvili transformou uma taberna em ruínas num restaurante georgiano com khinkali, vinho de ânfora e memórias da Lisboa antiga.

“Reservado o direito de admissão – Despesa obrigatória.” As frases foram pintadas na parede verde do Karater, o novo restaurante georgiano do Bairro Alto, a lembrar a outra vida do espaço, que no início do século passado foi leitaria e depois taberna. Noutra parede, mantém-se o antigo nome da casa: Flor da Branca.

“Gosto de pensar que eram duas vaquinhas que estavam no logradouro, a Flor e a Branca”, diz, a sorrir, o chef Guram Baghdoshvili, um dos sócios do restaurante, enquanto aponta para a cozinha. “Depois, nos anos 30, isto deixou de ser uma leitaria e passou a ser bar. Foi na altura em que os marinheiros vinham do alto mar para o Bairro Alto à procura de álcool e meninas. Era um bairro perigoso, um sítio de prostituição.”

À esquerda, o chef Guram Baghdoshvili, que chegou a Portugal em 1999. À direita, ajapsandali, uma espécie de ratatouille da cozinha da Geórgia.
À esquerda, o chef Guram Baghdoshvili, que chegou a Portugal em 1999. À direita, ajapsandali, uma espécie de ratatouille da cozinha da Geórgia.

Quando Guram começou as obras no restaurante na Rua do Diário de Notícias – “em ruínas e completamente podre”, recorda –, os vizinhos mais velhos apareceram à porta, curiosos. “Alguns diziam-me que foi aqui que aprenderam a jogar matraquilhos”, conta.

O seu objetivo foi preservar a memória dessa Lisboa que já não existe. Com garrafas centenárias de anis e aguardente nos armários recuperados, por exemplo, ou com uma antiga cuspideira à entrada da casa-de-banho, transformada em lavatório.

À esquerda, o famoso Napoleon, a recriação soviética do mil-folhas, a imperdível sobremesa. À direita, pkhaleuli, patés de vegetais e ervas aromáticas para entrada.
À esquerda, o famoso Napoleon, a recriação soviética do mil-folhas, a imperdível sobremesa. À direita, pkhaleuli, patés de vegetais e ervas aromáticas para entrada.

Apesar de ter nascido e crescido na Geórgia, Guram Baghdoshvili tem “alma portuguesa”, afirma. Chegou a Portugal em 1999 para passar férias, mas a estadia acabou por prolongar-se por vinte anos. “Já estava no limite da minha vida financeira e tive de começar a trabalhar”, admite.

O primeiro sítio por onde passou foi um restaurante na Costa do Castelo, em Lisboa, “da Fátima, uma senhora moçambicana”. Desde então, percorreu Portugal de Norte a Sul com vários projectos na área da gastronomia. Como o Nikki Beach, no Algarve, onde foi head chef, ou os espaços do grupo NoSolo, enquanto chef executivo.

No currículo tem também um estágio no famoso El Celler de Can Roca, em Girona, Espanha, e fluência em sete línguas: além de português e georgiano, fala inglês, russo, espanhol, italiano e francês. Orgulha-se ainda de ser o único chef da Geórgia que trabalhou “para três presidentes” do país.

A decoração do Karater é uma homenagem à outra vida do espaço, que em tempos foi a leitaria Flor da Branca, no Bairro Alto
A decoração do Karater é uma homenagem à outra vida do espaço, que em tempos foi a leitaria Flor da Branca, no Bairro Alto

O Karater, inaugurado no final de 2024, marca o regresso do chef a Lisboa depois de dez anos na Geórgia. “Os meus pensamentos sempre estiverem em Portugal”, diz.

No entanto, andou ocupado. Além de ser embaixador da Geórgia em eventos gastronómicos pelo mundo fora, criou o grupo Chveni e abriu vários restaurantes no seu país. Pelo meio, ainda arranjou tempo para ser júri e protagonista de vários programas de TV de culinária.

Mais que uma desculpa para Guram passar mais tempo em Portugal, o Karater é uma maneira bem sucedida de devolver alguma alma ao Bairro Alto, ainda que aqui a cozinha seja de outras latitudes.

“As pessoas não reparam, mas uso 100% de produtos portugueses”, garante o chef. “A minha comida tem muita influência portuguesa.”

Nas prateleiras há garrafas antigas de aguardente e anis e outras mais modernas. Vale a pena experimentar o vinho de ânfora georgiano
Nas prateleiras há garrafas antigas de aguardente e anis e outras mais modernas. Vale a pena experimentar o vinho de ânfora georgiano

A carta do restaurante é pensada para partilhar pratos e viajar até ao Cáucaso sem sair do mesmo sítio. Nas entradas, o conselho é pedir um pkhaleuli, (15 euros), uma selecção de patés de vegetais e ervas aromáticas – muito importantes desde os primórdios da cozinha georgiana, aprendemos –, com nozes, rolinhos de beringela e pão de milho.

Para abrir o apetite, há croquetes de feijão vermelho ou de queijo sulguni (10 euros) e sopas, frias ou quentes, como a sopa kharcho (12 euros), com carne de vaca, arroz, ameixa, alho e coentros. Na mesa ao lado, um cliente chega apenas para matar saudades de khinkali (10 euros), uma espécie de dumplings da Geórgia, com um ritual próprio: comem-se com as mãos, trincam-se com cuidado para se beber o caldo e só depois se ataca o recheio.

No Karater, podem experimentar-se na versão tradicional ou com um twist do chef, com carne e molho de trufa preta, cogumelos e molho de pimenta ou de três queijos.

Os khinkali são uma espécie de dumplings da Geórgia, que podem vir com molho de cogumelos e pimenta, três queijos ou trufa preta ou sem molho, para comer à mão
Os khinkali são uma espécie de dumplings da Geórgia, que podem vir com molho de cogumelos e pimenta, três queijos ou trufa preta ou sem molho, para comer à mão

Além do típico khachapuri (15 euros) – talvez o prato mais emblemático da Geórgia —, uma espécie de pão em forma de barco, recheado com queijo derretido e um ovo cru que se mistura antes de servir, a outra recomendação do chef é o estufado de borrego com legumes e ervas aromáticas, um bestseller, e “muito próximo do paladar português”.

Imperdíveis são também os vinhos da Geórgia, que na carta ganham um destaque especial, sobretudo o vinho de ânfora, ou não fosse a região “o berço do vinho”, recorda Guram.

Para sobremesa, a escolha cai inevitavelmente sobre o Napoleon (8 euros), a recriação soviética do mil-folhas, com camadas finas de massa folhada e creme de baunilha.

O restaurante fica aberto até tarde, às duas da manhã, e de sexta a domingo está também aberto à hora de almoço.

Karater. Rua do Diário de Notícias, 65, Lisboa. Segunda a quinta, 16.00-02.00; sexta a domingo, 13.00-02.00. Reservas: 910 208 418