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Foi depois de ler uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, uma espécie de ode ao peixe cozido, promovido a “prato nacional” e o “equivalente marítimo do cozido à portuguesa”, que Ana Moura se inspirou para uma das novidades da carta do Lamelas (1 sol Guia Repsol): “Garoupa cozida com batata, ovo e pickles de cenoura”, conta a chef, recordando o texto que apela à salvação do peixe cozido, sobretudo em restaurantes. “Escolhi a garoupa porque é um peixe muito gordo, que dá muito sabor ao caldo”, explica. “É o mais tradicional possível.”
Na varanda do Lamelas, com vista para a Baía dos Pescadores, em Porto Covo, uma das primeiras paragens da Rota Vicentina, na costa alentejana, a Primavera dá finalmente um ar da sua graça depois de dias de tempestade. “Agora o mar está perfeito, amanhã estou à vontade”, anima-se a chef, que trabalha com produtores e pescadores locais. “A semana passada esteve horrível. Foi uma das coisas que aprendi aqui, a perceber o mar. Em Lisboa, alguém me dizia que não havia peixe porque o mar estava picado e eu não percebia. Agora, olho para o mar e já sei como vai ser o dia seguinte.”
Quando, em Maio de 2021, abria o Lamelas no espaço da antiga Taska do Xico, um popular restaurante de grelhados em Porto Covo, o peixe foi uma “escolha óbvia”. “Com esta vista e estando em Porto Covo, tinha toda a lógica”, continua. Para os moradores da vila piscatória que a conheciam desde criança depois de muitos Verões passados na casa do avô Lamelas, natural dali, a escolha não era assim tão óbvia. “Perguntavam-me: ‘Ana, não vais fazer uma coisa muito gourmet, pois não? E eu jurava que não.’”
A preocupação era válida. Ana Moura já tinha experiência em restaurantes de fine dining como o Eleven, em Lisboa, ou o Arzak, no País Basco, antes de passar pela Cave 23, também em Lisboa, ou pela Bacalhoaria Moderna, que encerrou com a pandemia. “Quando [as pessoas daqui] vêm cá, percebem que o que faço é uma cozinha bastante normal e acabam por voltar”, garante.
A técnica que ganhou em restaurantes de alta cozinha aliada à simplicidade das receitas alentejanas acaba por ser um dos grandes trunfos do restaurante de cozinha aberta, onde a chef pode finalmente ver quem está a servir. “É completamente diferente cozinharmos para alguém que vemos ou para alguém que imaginamos”, confessa. “Gosto muito dessa parte.”
Sem pretensões, com um ambiente familiar e mesas de madeira sem toalhas, o restaurante quer prestar uma homenagem à costa alentejana e fá-lo logo nas “entradinhas”, pequenos pratos para enganar a fome que, combinados, são quase uma refeição antes de um mergulho numa das praias das redondezas.
Os pratos podem mudar consoante a disponibilidade dos produtos, mas não variam muito: saladinha de polvo, choco de coentrada, paté de sapateira, almece com peixe curado, lulas fritas com maionese de algas, salada de gaspacho ou paté de fígados de abrótea, cada um a rondar os 7 euros.
Pode-se mesmo dizer que a abrótea tem sido uma das obsessões da chef desde que se mudou de Lisboa para Porto Covo. Na carta, surge novamente com amêijoas e em molho verde (21 euros), um prato “parecido com a sopa de cação” que tem sido um dos preferidos dos clientes. “É um peixe diferente, que as pessoas não conhecem e que existe muito nos Açores e nesta zona, há muito na lota de Sines. Também não conhecia antes de abrir o restaurante, mas tenho gostado de trabalhá-lo.”
Além da garoupa cozida, a novidade que é um piscar de olho a Miguel Esteves Cardoso, um dos pratos mais recentes é a lula recheada com migas de grelos e paté de ovas de pescada (29 euros), um prato “mais leve”, que lhe fez dar voltas à cabeça. “Não queria que fosse aquele prato pesado”, continua. “A cozinha do litoral alentejano é uma cozinha muito leve e nunca sabemos se as pessoas que aqui vêm almoçar vão para a praia a seguir.”
Com ou sem mergulho, vale a pena guardar-se para a grande especialidade, o arroz cremoso feito no momento com peixe do dia e camarão (35 euros), que se mantém na carta desde a abertura do restaurante. “Para mim o prato nacional é o arroz”, diz a chef. “Somos o maior consumidor de arroz da Europa e é impensável para um português não comer pelo menos uma vez por semana. Mesmo quando faço jantares vínicos ou a quatro mãos, tento sempre ter um prato de arroz.”
A selecção de vinhos de produtores locais (como a Herdade do Cebolal, o Monte da Carochinha, a Serenada ou os Vinhos Vicentino) é outra das suas preocupações do restaurante. “Tem de haver sempre uma ligação emocional ao que estamos a vender”, defende. “E são todos vinhos que ligam bem com os nossos sabores, são daqui de perto.”
Para a chef, que tem também os seus pais a trabalhar consigo, seria improvável abrir um espaço noutro lugar. “Tenho uma ligação e um carinho muito grande por Porto Covo e gosto muito de ver a terra crescer. Não em quantidade, mas que fique melhor.”
Lamelas. Rua Cândido da Silva, 55 A, 7520, Porto Covo. Telefone: 924 060 426 Quarta-feira a sexta-feira, das 12h30 às 14h30 e 19h30 às 21h30. Sábado até às 22h e Domingo até às 21h. Fecha segunda e terça.
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