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Já não se faz o rally automóvel à volta da ilha, já ninguém pratica hóquei em campo ou participa em torneios de bilhar. Parece que também já ninguém joga bridge, constata Joana Abreu Gonçalves, numa das salas do Club Sports Madeira.
As mesas de jogos de cartas e de bilhares ainda estão montadas, os móveis são de madeiras escuras forrados a veludos, mas tudo isto é só uma recordação. Agora, sobe-se a este primeiro andar da Avenida Arriaga, no centro do Funchal, para tomar um dos mais criativos e deliciosos chás da cinco da ilha. Na Choux, a tradição inglesa na Madeira ainda é um pouco do que era.
As salas de um dos clubes de desportos mais antigos da Madeira, fundado em 1909, já se encheram de praticantes de vela, atletismo, pugilismo, natação ou polo aquático. A inspiração eram os clubes ingleses do início do século. Hoje a sala inspira-se antes na tradição inglesa do chá das cinco, que vive fechada nos hotéis de luxo da ilha.
A pasteleira Joana Abreu Gonçalves lembra-se de ir às casas de chá do Funchal com a mãe e a avó em miúda. Em travessas de três andares serviam-se sandes aparadas em formas geométricas, scones com manteiga e doce, fatias de bolos a dar uma cor aos pratos, tarteletes e pastelarias que davam pena trincar. É este ambiente que se volta a encontrar na Choux, a sua casa de chá.
“Trouxe a louça da minha avó e da minha mãe, coisas antigas que gostava, mas que tento combinar para que não deem um ambiente muito formal ou pesado”, conta entre os móveis antigos, encontrados em leilões ou hotéis e lojas em fim de vida.
Na parede estão fotos antigas do clube, do tempo em que as senhoras burguesas do Funchal conviviam em casas de chá de saia-casaco e chapelinho. Mas nada aqui cheira a mofo, porque Joana juntou o ritual inglês à técnica francesa e às frutas da Madeira.
“O clássico francês foi o que aprendi, o que gosto de fazer e comer”, conta lembrando a sua experiência em todos os fine dinings da ilha — principalmente no Il Gallo D’Oro (três Sóis Guia Repsol) — e alguns outros do continente. “Mas não queria uma pastelaria francesa rígida. Posso fazer uma bola de Berlim e uso muito as frutas regionais”, conta o que a vitrine das pastelarias confirma: uma peça de requeijão e tomate inglês, macarons de pitanga, manga ou framboesas, eclairs e choux com recheios sempre a variar do côco ao maracujá sem esquecer a sempre necessária banana.
Com um menu de pastelaria que muda a cada duas semanas, Joana Abreu Gonçalves traz para fora das altas cozinhas inacessíveis à maioria a pastelaria de autor, com todas as suas temperagens de chocolates, mousselines, ganaches e complexas massas.
“Os fine dinings deram-me a oportunidade de conhecer técnicas e produtos, mas o meu objetivo sempre foi ter um espaço meu”, diz a arquiteta que mudou de vida aos 30 anos para se dedicar profissionalmente à pastelaria.
Neste segundo andar, é uma pequena montra que nos recebe à entrada da sala. Podia ser a vitrine de um museu de artes decorativas — cada peça com o seu brilho, elegância, todas engalanadas e coloridas. Felizmente não são só para exposição.
“Muita gente entra e diz, ‘só tem isto?’”, conta Joana sobre o espanto de clientes habituados às pastelarias com mais de meia dúzia de bolos na montra. “Tenho de explicar o que fazemos aqui, que cada passo é feito na casa, desde as pastas de frutos secos às massas, aos pralinés”, detalha.
A ausência frequente do chocolate é também uma admiração para alguns, mas Joana Abreu Gonçalves está há vários anos apostada em explorar a variedade impressionante de frutas regionais e até em reabilitá-las junto dos madeirenses.
Primeiro teve uma marca de gelados de fruta da madeira e agora estão sempre na sua seleção de macarons e gomas (pelo menos). “As frutas da ilha são um pouco a minha identidade na pastelaria. Permitem-me variar e fazer uma pastelaria com menos açúcar e mais natural. Além disso… já há muita gente a fazer brownies e red velvet”.
Numa cidade onde a tendência do brunch e do café de especialidade chegou, Joana prefere olhar para as suas memórias de infância e apresenta ainda um menu de pequeno-almoço ou um chá da tarde com sanduíches e salgados como quiches ou muffins de azeitona, scones, choux, macarons e tarteletes ou mini-bolos.
A vista sobre o jardim municipal compõe o cenário. Na época dos jacarandás em flor, as janelas deste primeiro andar são a plateia para as copas das árvores, e as primeiras sócias do Club Sports Madeira fazem companhia, nas fotografias da parede. Numa das imagens está a primeira mulher a participar no rally da Madeira, a erguer a taça. Um tchim-tchim a ela.
Choux. Avenida Arriaga 43, 1º andar, Funchal, Madeira. 2ª a Sáb. das 10h às 19h. Tel. 962 330 489
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