Desculpe, não há resultados para a sua pesquisa. Tente novamente!
Adicionar evento ao calendário
Paulo Horta lança o olhar para o horizonte. Do topo da sua propriedade, na freguesia dos Cabeços, em Alenquer, consegue ver desde as Linhas de Torres até ao Tejo. “Antigamente, na zona saloia, cada monte tinha um moinho”, diz, apontando com a mão todos os montes que a vista consegue alcançar. O “seu” monte não é exceção.
À entrada da Farinhas Paulino Horta, empresa que se confunde com casa, há um moinho com mais de três séculos, “dos mais antigos da região”, garante. “Os moinhos são navios plantados no cimo das montanhas”. Têm um mastro, velas e uma espécie de leme, para as fazer girar conforme o vento. Na estrutura das velas, têm também “búzios”, nada mais do que pequenas cabaças de barro, de vários tamanhos. “São feitos para fazer o moinho cantar”, explica Paulo, com uma pitada de poesia, logo justificada. “Quando o canto do moinho se tornava mais intenso, sabias logo que havia mudanças no vento”.
Hoje em dia, os moinhos da Farinhas Paulino Horta são controlados por quadros elétricos. O seu cantar é diferente, mas a vocação do maestro que os conduz mantêm-se igual à das sete gerações que o antecederam, quando o moleiro era uma entidade a quem as famílias davam os seus cereais na certeza de que, de quinze em quinze dias, o iriam ver descer à vila com a farinha que lhes era devida. “Se o moleiro não aparecesse, não havia farinha para fazer pão e não tinhas alimento para alimentar os teus filhos.”
Daí Paulo Horta repetir, amiúde, que “farinha é vida”. A vida dele, do seu pai, avô, tio e bisavô foi dedicada às farinhas e a “desejar o bem” do outro. O moinho que está à entrada da Farinhas Paulino Horta é testemunho disso mesmo: um espaço museológico que conta a história da família de Paulo e do irmão Artur, com todos os elementos que faziam parte do dia-a-dia de um moleiro. “Desde que nascemos, somos treinados para ser moleiros. Este museu é uma forma de nos lembrarmos de quem somos”.
Por se lembrar bem de quem é, Paulo Horta nunca abdicou da sua vocação, mesmo quando os ventos não estavam a seu favor. “O meu pai ia fechar a empresa, mas eu e o meu irmão, contra a vontade dele, mantivemos. Achávamos que os moleiros não deviam desaparecer e que tínhamos algo que era diferente.”
Em 2001, assumiram o leme da Farinhas Paulino Horta. Mantiveram as mós centenárias de quartzo, mesmo com a inovação das mós de aço a chegarem ao mercado, por saberem que as pedras têm uma forma de “dançar” que deixam as “farinhas vivas”, as tais usadas para fazer pão “como antigamente”.
A temperatura e movimentos das mós de pedra não destroem o gérmen e o farelo dos grãos, por isso, esta farinha é mais nutritiva, intensa e saborosa. Preservar estas características é deixar que o terroir da farinha venha a dar pães de diferentes sabores e texturas.
Nesse início, compraram cereais a vários pequenos agricultores, de Portugal e da Europa, bateram à porta de muitos padeiros, quase todos unânimes a admitir a qualidade das suas farinhas, mas poucos com vontade de mudar o modelo de negócio, assente em farinhas e fermentos industriais mais baratos e menos nutritivos. “Foi um trabalho duro, de muita teimosia. Diziam-me que eu era maluco. Mas não podia ser o único maluco a achar que valia a pena”.
Felizmente, não era. Poucos anos antes da pandemia, outros “malucos” começaram a juntar-se a Paulo Horta e a valorizar as suas farinhas. Mário Rolando, “o mestre do pão” que fundou a Padaria da Esquina, foi dos primeiros a espalhar a palavra. Ana Jorge, da NØRRE, em Braga, ou Daniel Brandão, da Crescente Padaria Artesanal, no Porto - vencedor do concurso O Melhor Croissant do Porto - renderam-se igualmente às farinhas Paulino Horta, bem como quase todos os chefes de fine dining premiados no país. “Agora temos clientes desde Ponte de Lima a Faro”. A curva de crescimento continua ascendente, com a empresa a moer sensivelmente 600 toneladas de farinha por mês.
No seu portfólio, há mais de 60 tipos de farinhas, feitas com cereais de diferentes espécies: trigo tradicional, saloio, barbela, sarraceno, espelta, centeio, milho amarelo, kamut, grão de bico ou quinoa são alguns exemplos que poderá encomendar na loja online. “Em cada saco transmito o saber de séculos” diz Paulo Horta, com os olhos a brilhar. “Só de pegar nas farinhas já lhe conheço a personalidade”.
Existem também farinhas que resultam de blends, porque o cereal tem terroir, tal e qual o vinho e tudo o que vem da terra. Só não vende pão, porque essa tarefa é do padeiro: “Moleiro que é moleiro sabe fazer pão, mas fazemos só para ter em casa”. Quem é de Alenquer, encontra pão artesanal feito com farinhas Paulino Horta na padaria Vila Presépio.
Quem não é, pode ligar para a empresa - ou até passar por lá - a perguntar. Seja Paulo, Artur ou um dos 12 funcionários, todos sabem onde moram estas farinhas vivas, de onde nasce pão feito com “amor, paixão e dedicação”.
Farinhas Paulino Horta. Rua Aniceto Costa, nº 6, Cabeços, Alenquer. 263 759 700. 9h-13h e 14h-18h
Em geral… como classificaria o site do Guia Repsol?
Dê-nos a sua opinião para que possamos oferecer-lhe uma melhor experiência
Agradecemos a sua ajuda!
Teremos em conta a sua opinião para fazer do Guia Repsol um espaço que mereça um brinde. Saúde!