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Para algumas pessoas o luxo é dormir praticamente ao relento depois de uma grande refeição. Não falamos do luxo das pequenas coisas, do que é simples e do “que se leva desta vida”. Isto é luxo a sério e há cada vez mais turistas a praticá-lo: dormir numa autocaravana altamente confortável, estacionada com vista alta para uma vinha e um pinhal e, ao final da tarde, quando a luz está dourada, sentar-se num restaurante de alta cozinha.
É assim no Mesa de Lemos. O restaurante com dois Sóis Repsol tem uns quantos quartos para passar a noite, mas estão reservados aos amigos e convidados dos proprietários. Adensa-se assim a aura de exclusividade em torno da Quinta de Lemos e do seu restaurante. Depois de provar a cozinha requintada de Diogo Rocha, se quiser dormir no local, a única opção é mesmo uma autocaravana estacionada do parque do restaurante.
A história do proprietário ajuda a explicar que os quartos com janelas panorâmicas sobre a quinta e roupa de cama de sonho sejam apenas para convidados. Celso de Lemos criou uma marca de roupa de cama e atoalhados de luxo, a Abyss & Habidecor, depois de emigrar para a Bélgica.
Montou fábrica em Viseu e aqui recebe os seus clientes de 60 países — dos Estados Unidos da América aos Emirados Árabes Unidos. Para isso, além de um heliporto, construiu, no alto da sua Quinta de Lemos, um edifício assinado pelo arquiteto José Manuel Carvalho Araújo: nos quartos, o conforto dos lençóis de algodão egípcio da maior qualidade, no restaurante, o prazer da mesa portuguesa (onde faz questão de não discutir negócios).
Não planeou ter um premiado restaurante de fine dining português, foi Diogo Rocha, à frente da cozinha desde o seu início, em 2012, que encaminhou o Mesa de Lemos neste sentido. “O Vitor Sobral apresentou-me ao Celso de Lemos, que além de um sonhador é um fazedor de sonhos”, diz sobre os seus próprios objetivos: “O Celso não quer saber dos prémios, mas sabe que são importantes para mim”.
O que Celso de Lemos, de 80 anos, queria era simplesmente um restaurante que mostrasse Portugal aos seus clientes de todo o mundo. Começa-se pela identidade da Beira Interior, ainda antes da entrada: o cheiro a pinheiro e eucalipto no verão, misturado com o sol seco.
Ao entrar na Mesa de Lemos, vemos a pedra de granito, outro incontornável da zona. Um grande penedo entra pela sala, é ele que se impõe perante uma cozinha aberta e uma sala envidraçada para as vinhas.
Das vinhas vêm todos os vinhos que se provam neste restaurante. Do espumante Gégé rosé bruto, que abre a refeição, ao Geraldine Bruto Branco Natural, harmonizado com uma sobremesa, os vinhos Quinta de Lemos tornaram-se numa marca com valor próprio — os vinhos Quinta de Lemos. Veja-se a cave onde envelhecem algumas das referências, uma espécie de biblioteca construída no meio de rochas de granito, onde se guardam os primeiros volumes de 2005
“Ter só vinhos nossos não é um problema”, diz Diogo Rocha, “é uma força. A proximidade com o enólogo permite ir alinhado o que seja mais interessante para nos vinhos para restaurante e vice-versa”.
Ao longo da refeição, os sabores pungentes vão sendo amenizados ou acentuados pelos vinhos, mas a marca de uma comida gulosa tem de manter-se clara, como se vê nos espargos brancos e verdes com enguia fumada, tão vegetal quanto umami, ou no besugo servido com feijão branco, molho de cabeças de camarão e um pão brioche com peixe seco para não deixar molho nenhum para trás.
O bacalhau tem um sal bem presente e os momentos iniciais do menu, em que explora um ingrediente de época em mousses, pãezinhos, tarteletes e outras pequenas peças, mostram que quer extrair ao máximo as hipóteses que cada um oferece — mesmo que estejamos a falar das nada consensuais ervilhas ou beterraba.
Estes momentos iniciais mostram uma espécie de laboratório de experimentação: colocam-se à frente do cliente seis elementos com um ingrediente de época em comum. São servidos nas cerâmicas de Geraldine de Lemos, filha do fundador, inspiradas nos elementos do pinhal.
É um certo momento de tensão para o serviço de sala (e até para o cliente) pelas formas que a ceramista inventou: instáveis para um taco de ervilha, um disco de mousse, um mini-brioche com beterraba. No entanto, quando o cenário está montado na mesa, estamos numa daquelas exposições didáticas de museu da ciência, prontos para explorar, com a vantagem de poder comer.
“A ideia desses primeiros momentos é poder explorar ao máximo cada ingrediente. O que vai surpreender não é tanto a técnica, é poder apresentar um produto de forma variada, extrair ao máximo o seu sabor”, explica Diogo Rocha que vê aqui a hipótese de se dedicar a produtos mais específicos, como (em breve) o grão fresco.
O resultado é uma mesa portuguesa, o chef não tem dúvidas: “Não tem um sabor direto a cozinha tradicional, mas tem o produto e o saber português. Isto é cozinha portuguesa”. Celso de Lemos só tinha pedido três coisas a Diogo Rocha: servir um ovo bem feito, uma boa batata e um bom azeite. Não era pedir muito.
Mesa de Lemos. Quinta de Lemos, Passos de Silgueiros, Viseu. De quarta a sábado, das 20h às 00h e de sexta a domingo das 12h às 15h. Tel.: 961 158 503
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