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A todos os que dizem cobras e lagartos do outono. A todos os que condenam a mudança da hora e a timidez do sol a partir do fim de outubro. A todos os que esperam ansiosamente que o inverno chegue para que acabe o mais depressa possível. A todos os que preferem ignorar a maravilha que acontece à nossa volta quando chegamos a este último terço do ano: os parágrafos que se seguem são para vocês.
São odes à castanha, fruto maior, fruto que pede respeito, reverência, que merece ser descoberto. Para que a castanha não fique presa a hábitos que, apesar de deliciosos, são curtos, avançamos com orgulho por esse Portugal que olha para o castanheiro como fonte de riqueza. Ora vejam.
Tentemos desconstruí-la tranquilamente, porque tem muitas camadas e pouco prováveis. É uma tarte, está lá a massa a fazer de cama e de crocante, a ser abrigo e desafio, tudo ao mesmo tempo. Está lá a farinheira, nascida como recurso para a sobrevivência, e agora a despertar perguntas como “mas é possível que não gostes de farinheira?”.
E depois há castanha, para que a gordura que faz o dito enchido se acompanhe deste fruto nobre e não de uma qualquer outra farinha. São três dimensões prontas para dançar umas com as outras. Talvez faltasse apenas um convite. Esse veio de terras alentejanas, de gente dada à experiência na mesa. Agradeçamos por isso.
Páteo Real: Av. Dr. João Pestana 37, 7440-013 Alter do Chão. Telefone: 960 155 363. De quinta a segunda, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h. Quarta-feira só serve jantares. Fecha à terça-feira.
Parece nome de história infantil. Ou de lenda de um “outro Portugal”, para tornar a coisa ainda mais antiga. Mas não. Não é nada disso. É um doce. Um miminho. Uma gordice. Uma açucarada. É pastelaria. E tem fama, não só em redor da serra que o gerou, mas um pouco por todo o circuito de curiosos da felicidade calórica. E isto começa de facto assim: era uma vez a Festa da Castanha na Lapa das Dinheiros, aldeia que vive na encosta da Serra da Estrela e que alberga, além de uma extraordinária praia fluvial (palavra!), uma dose generosa de castanheiros.
Em 2017, a pastelaria Zé Manel achou por bem participar na dita Festa com um novo doce, feito com pasta de castanha suportada pela delicadeza da massa filo. O resultado foi um sucesso e hoje é um ex-libris do estabelecimento. Daqueles que se compram em quantidade, que ficam bem nas fotos e que se levam em caixas para os curiosos da cidade.
Zé Manel: Praça da República 42, 6270-496 Seia; Telefone: 238 316 106. Todos os dias, das 07h30 às 20h.
Temos de começar por algum lado, portanto comecemos pelo parque natural que dá nome à castanha de que aqui se fala. Montesinho, montes e vales transmontanos e para lá da raia: é aqui que nasce uma das castanhas com mais categoria no campeonato das categorias de castanha.
De tal forma que quem a cultiva protege-a com tudo contra todos, especialmente contra prospecções mineiras. Bragança fica nesta zona, é um templo de culinária, arte que em Trás-os-Montes ganha uma vida quase sobrenatural, de tão impossivelmente notável.
E aqui encontramos a Pousada de São Bartolomeu, com o respetivo restaurante, tudo idealizado e gerido pelos irmãos Geadas. O menu desta mesa é cuidado, exigente, com vontades de quem quer oferecer requinte. É desta carta que faz parte a castanha com café e erva doce, iguaria que tem tanto de sobremesa como de regalo abrasivo, saído de uma terra que tanto agradece aos elementos como os confronta, destemidos.
G Pousada: Rua do Turismo, Pousada da São Bartolomeu, 5300-271 Bragança. Telefone: 273 331 493. De terça a domingo, das 19h30 às 24h. Encerra à segunda-feira.
Na comida, como na vida, damos muita coisas por garantidas. Estamos mais do que certos que certas tragédias nunca vão acontecer. Que certas faltas nunca nos vão assolar. E isso, por vezes, influencia as nossas escolhas. Preferimos a novidade ao nosso grande amor, como se ele estivesse sempre à nossa espera. Talvez tenhamos que encarar a mesa de forma mais instintiva, mais mamífera. Talvez nos devamos atirar às nossas obsessões sem vergonha. Se há bacalhau, digamos “sim”. Estejamos presentes.
Tomai como exemplo o Zambeze, casa de inspiração moçambicana. Estejamos, pois, disponíveis para assumir um caso com a broa que envolve o bacalhau nesta cozinha, que se faz acompanhar de puré de castanha. Declarai a vossa vassalagem emocional. Nunca uma oportunidade é a mais, porque aquele encanto clássico nunca é igual, ainda que o tenhamos como certo e conhecido.
Zambeze: Calçada do Marquês de Tancos, Edifício EMEL Mercado Chão do Loureiro, 1100-340 Lisboa. Telefone: 218 877 056. Todos os dias, das 11h às 23h.
Se é para celebrar a castanha, que seja assim como faz O Monte (recomendado no Guia Repsol). Não há um prato especial, não há uma sobremesa surpreendente, não há um detalhe a marcar a diferença. Há um menu inteiro. Segue desta forma: sopa de castanha, barriga fumada e cebolinho; ensopado de javali, castanha e míscaros; e pastel de Vouzela de castanha com gelado de jeropiga. Preço fixo de 30 euros, mas fica a dica: faça a reserva.
O Monte: Rua Vales, 3515-496 Bodiosa. Telefone: 962 302 053. De terça a sábado, das 12h às 15h30 e das 19h30 às 23h. Aos domingos só abre ao almoço. Encerra à segunda.
Isto podia ter sido tudo muito planeado, matematicamente estudado, friamente calculado. Mas não. E é por isso que é muito mais interessante. Marvão é o berço e casa da Festa do Castanheiro, a quinzena gastronómica da castanha que exalta uma das riquezas daquela zona alentejana (não temos tempo nem espaço para abordarmos as restantes, concentremo-nos nesta).
E nesta festança esteve, este ano, incluído um lote de restaurantes que apresenta ementas especiais, dedicadas a esta joia natural que por ali nasce e cresce. Inclui-se neste rol a Varanda do Alentejo, que pode parecer um nome com demasiada garimpa, mas que faz todo o sentido quando percebemos que ao provar o que por ali se serve temos uma vista panorâmica sobre a região. Nesta Varanda serve-se o bacalhau em azeite da zona, com puré de castanha e maçã (outro fruto que é marca da casa). É este o destaque que apresentamos, mas não se prenda, viaje pela carta, não se vai arrepender.
Varanda do Alentejo: Praça do Pelourinho, 1-A, 7330-108 Marvão. Telefone: 245 909 002. De terça a domingo, das 12h30 às 15h e das 19h às 22h. Fecha à segunda-feira.
Há várias razões para trazermos para aqui esta sugestão, cada uma melhor do que a anterior (ou a seguinte, o lugar comum serve para os dois lados). Primeiro, o nome da casa: Tapada do Poejo. Se é tapada, queremos conhecer, cheira a conforto e história — mesmo à distância.
Acresce que o estabelecimento em causa tem morada fixa em Alvarrões, plural de “alvarrão”, expressão que se usa para descrever alguém que está só, distante, solteiro, desamparado, no limite. E a sugestão é esta: febrinha da matança com castanhas. Minha gente, é a celebração do porco, é a classe alentejana na hora de fazer da refeição um acontecimento, uma fonte de força brava, uma cerimónia comunitária.
Além disso, “febrinhas da matança” é um nome óptimo, pleno de ironia e contradição, dado o eufemismo do ato sanguinário. Tudo mais do que certo.
Tapada do Poejo: Estrada Nacional 359, 7330-301 Marvão. Telefone: 245 993 958. De segunda a sábado, das 11h às 15h e das 17h às 20h. Sábado só abre ao almoço. Fecha ao domingo.
Há pouco tempo tive uma conversa séria sobre um assunto de extrema importância. Em cima da mesa estava o cabrito assado. Infelizmente, não era o próprio, mas uma alusão, referência, era o centro da conversa, que é motivo bastante para despertar no adepto de tal comezaina a mais emocional das respostas: uma fome quase impossível de domesticar.
E porquê este assunto? Porque do outro lado da argumentação estava alguém que dizia não gostar de cabrito assado. Mais: apontou falhas ao prato, insultou-o, desrespeitou-o, a ele e a toda a história que o trouxe até este século XXI. Os nervos aumentaram, a tensão manifestou-se, a ira começou a dar sinais. Mas uma réstia de bom senso dominou os acontecimentos e afastou qualquer possibilidade de revolta. Antes, surgiu uma hipótese: a sugestão de uma mesa para degustação da iguaria, de maneira a que aquele revoltoso pudesse converter-se a uma das mais dignas expressões de fé.
O destino é a Lousã, em plena serra. A terra chama-se Candal. A porta tem o nome da casa escrito por cima: Sabores da Aldeia. E o cabrito vem para a mesa entre castanhas e batatas. Depois venho aqui relatar o sucedido.
Sabores da Aldeia: Aldeia do Candal, 2300-067 Lousã. Telefone: 239 991 393. Sábado e domingo, das 13h às 15h30 e das 19h às 22h.
Tem alguma graça incluir A Cozinha numa lista de sugestões com pratos e menus em que a castanha é umas das protagonistas. Por uma razão: porque A Cozinha — e, naturalmente, a arte do chef António Loureiro — é de tal forma abrangente, referencial e inspiradora que certamente a conseguiríamos inscrever em qualquer elencado de bom gosto e engenho. Neste caso, a nova carta de outono desta casa de Guimarães inclui um prato de corso com castanha que merece ser descoberto, para depois acolher a devida vénia.
A Cozinha: Largo do Serralho 4, 4800-472, Guimarães. Telefone: 253 534 022. De terça a sábado, das 12h30 às 15h30 e das 19h30 às 23h. Fecha ao domingo e à segunda.
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