Õtaka: Uma furna asiática em São Miguel

A cozinha dos Açores em versão nikkei

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09/10/2025

Texto: Clara Silva

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Fotografia: Ana Brígida

Açores, Japão e Peru juntam-se no Õtaka, no centro de Ponta Delgada, onde os produtos das ilhas vão buscar inspiração a outras paragens.

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A fofa vulcânica com chutney de pimenta da terra e creme de queijo de ovelha de Santa Maria é uma das entradas do menu de degustação do Õtaka, o restaurante de cozinha nikkei em Ponta Delgada (recomendado no Guia Repsol Portugal 2025).

O Õtaka abriu em 2018 no centro de Ponta Delgada. Em tempos, o espaço foi uma loja de tapetes

O “street snack”, como lhe chama o chef José Pereira, é uma recriação das famosas fofas da Povoação, um doce típico da ilha. Também o chutney é preparado com pimenta da terra, um condimento indispensável da cozinha açoriana.

Já o recheio é feito de queijo de ovelha da Queijaria de Santa Maria, produtor que faz “o único queijo de ovelha dos Açores”, assegura o chef. “É a ilha mais seca, a que tem mais ovelhas e a única que produz este queijo”, explica.

Um encontro entre Japão e Peru nos Açores

Natural de Santa Maria, José Pereira e a mulher, a chef pasteleira brasileira Anne Teixeira, trabalharam sete anos na Suíça até voltarem para os Açores para abrir o restaurante que funde cozinha japonesa e peruana com produtos “o mais locais possíveis”.

A tarefa nem sempre é fácil quando se trata de cozinha nikkei, mas os ingredientes do arquipélago ajudam.

“Nos Açores temos excelente peixe, excelente carne e combinamos os nossos produtos com ingredientes do Japão e do Peru, ou mesmo ingredientes locais que consigam fazer uma mímica deste estilo de cozinha a nível de acidez e picante”, diz o chef de 42 anos.

Depois da experiência a trabalhar num restaurante nikkei da cadeia Four Seasons, José Pereira achou que fazia sentido levar o conceito para São Miguel. “Na minha cabeça tinha tudo para dar certo”, continua. “E deu.”

Depois de sete anos na Suíça, o chef José Pereira, natural de Santa Maria, decidiu voltar aos Açores e abrir o seu próprio espaço

O Õtaka – palavra que em japonês quer dizer “açor” – abriu portas em 2018, “antes do boom turístico de São Miguel”, conta o chef. Nas férias do trabalho na Suíça, o casal procurou um espaço para abrir o primeiro restaurante próprio. Finalmente, descobriu o número 9 da Rua Hintze Ribeiro, mesmo no centro de Ponta Delgada, onde em tempos funcionou uma loja de tapetes.

“Quando viemos para cá, não havia menus de degustação [na ilha]. Os restaurantes eram todos muito tradicionais e viemos com um serviço mais contemporâneo”, diz José. A aceitação foi boa desde o início, não só entre os turistas de visita à ilha, como entre os locais, curiosos com a novidade. “A comunidade sempre apoiou muito o restaurante desde o início”, continua o chef. “As pessoas gostaram, recomendaram e funcionou muito com o ‘passa palavra’”.

O restaurante está também aberto ao almoço com outro conceito, mais focado na comida da América do Sul

O peixe fresco dos Açores é o grande trunfo na preparação dos pratos da cozinha nikkei

Com dois turnos ao jantar, um às 18h30 e outro às 21h30, hoje é difícil arranjar mesa sem reserva no Õtaka, sobretudo nos meses de verão. O restaurante tem dois menus de degustação de 8 ou 10 momentos (75 a 125 euros), com harmonização à parte (entre os 40 e os 80 euros) e também um menu à carta, onde estão os pratos mais populares desde a abertura do restaurante e outros do menu de degustação “que fizeram sucesso”, diz o chef.

O que provar no Õtaka?

Entre eles está, por exemplo, o nigiri crocante com tártaro de atum (9.5 euros), a tempura de camarão selvagem e maionese picante yuzu (15 euros), o usuzukuri com miso seco (14 euros), as lapas (16 euros) ou a raia com cenouras e vinagrete de shiso (26 euros).

A preferência é sempre pelos produtos açorianos, salvo algumas exceções como o bacalhau do Alasca, servido com migas de miso, ou a carne wagyu, com chalotas e espinafres. “Mesmo nas sobremesas, temos sempre frutas locais. É um meio pequenino e tentamos sempre dar valor aos nossos produtos.” Como o limão galego, com hibisco e iogurte, ou o chocolate branco do menu de degustação, com ananás e maracujá ou araçá e lima caviar.

Depois de estar fechado algumas semanas para obras de remodelação, o Õtaka reabriu este ano com uma nova cocktail station

Este ano, e depois de algumas obras para reaproveitar o espaço com uma nova garrafeira e uma cocktail station no bar, o Õtaka passou a funcionar também ao almoço com outro conceito, mais descontraído e “mais voltado para a América do Sul”, diz o chef.

O Ají By Õtaka, assim se chama para evitar “confusões com o estatuto que o Õtaka já tinha, serve essencialmente “comfort food a preços mais acessíveis”: croquetes de borrego de Santa Maria, fraldinha, smash burgers, quesadillas, tostadas de atum ou churros para sobremesa. Uma maneira de contornar a “sazonalidade” dos Açores e dar a Ponta Delgada mais uma opção diferente – agora aos almoços.

Õtaka. Rua Hintze Ribeiro, 9, Ponta Delgada, São Miguel, Açores. De terça-feira a sábado. 18h30-22h. Encerrado ao domingo e à segunda-feira. Telefone: 919 312 080. O Ají by Õtaka funciona de terça a sábado, 12h-14h. Telefone: 910 604 185

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