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Na Mavalà come-se comida da Lombardia e bebe-se vinho, ao som de clássicos italianos dos anos 80. Davide Prandi é o oste responsável pela comida, pelo cenário dadaísta e pelas histórias desenroladas à mesa. Da cozinha, por vezes, ouve-se a sua mãe dar nas orelhas da equipa, enquanto estendem juntos a massa fresca. De porta fechada ninguém diria que estamos na baixa de Faro.
“Não tenho nenhuma história bonita sobre gastronomia para contar. O meu sonho era não fazer nada. Ainda é”, começa por dizer Davide Prandi, com a intenção de afastar uma narrativa romântica sobre o seu percurso e do restaurante. Mas mal entramos na Osteria Mavalà, percebemos que esta história não é um acaso.
O espaço, um pequeno armazém, foi transformado numa sala de jantar, onde todos os pormenores dão corpo a uma história maior, completada à mesa. Fotografias antigas, pinturas, referências do cinema italiano, mapas de várias cidades e regiões de Itália, livros de gastronomia empilhados, carros de corrida em miniatura, bonecas de porcelana e os móveis antigos ajudam a compor a sala: “Queria um espaço quente e acolhedor, que combinasse com a nossa cozinha. Toda a decoração funciona como uma casa tradicional italiana, onde cabe sempre mais qualquer coisa”.
Davide Prandi é natural do norte de Itália, da província de Monza e Brianza, conhecida pela indústria do mobiliário e design, pelas paisagens de montanha e pelo Grande Prémio de Fórmula 1 de Monza.
A nível gastronómico, a sua tradição mais fechada impediu-a de brilhar como outras regiões italianas: “O arroz sempre foi o nosso principal cereal e o risotto, talvez seja o prato mais conhecido da Lombardia. Eu ganho muito com este apelido de fazer uma cozinha tradicional italiana, mas, no final do dia, o restaurante é de comida minha, inspirado na parte setentrional da Itália porque é essa a minha identidade e experiência”.
A Osteria Mavalà tem a etiqueta de restaurante de comida tradicional italiana, porque, na verdade, é mesmo isso que oferece, mas desengane-se, quem pensa lá encontrar pizzas ou massa com molho de tomate: “Podemos indagar sobre a palavra tradição e o que é de facto comida tradicional italiana. Na gastronomia tudo é uma contaminação das nossas experiências pessoais e influências. As minhas, alteram-se todos os dias, mas a base está lá”.
E a sua cozinha exprime-se, essencialmente, em pratos de proteína animal e na sua cozedura, utilizando poucos ingredientes, mais arroz do que massa e muito humor e ironia, numa constante brincadeira com a tradição, no uso de técnicas, não só italianas, como francesas, austríacas e portuguesas.
Além da boa disposição e sentido de humor, neste restaurante trabalha-se com uma filosofia de artesão, na qual se repete continuamente o mesmo gesto e, em todas as vezes, o resultado é diferente e melhor: “O tempo dilata e cria gosto. Acreditamos que o produto pode ser sempre cozinhado melhor da próxima vez. É importante respeitar as cozeduras, o tempo de descanso, servir na temperatura certa”.
Uma década de restaurante serviu para aperfeiçoar muitas receitas, transformando-as em ícones da Mavalà. Entre a lista composta, encontramos o vitello tonnato, a cotoletta alla milanese (feito com vitela branca de Mirandela e cogumelos), a mondeghini di milano (uma receita da avó de Davide), o risotto com diferentes combinações (sendo o de açafrão e caldo de carne o mais repetido), o spaghetti com gamba da costa e pistácio, o coelho com molho de anchovas e puré de nabo ou os famosos ravioli de abóbora.
Ao almoço, a “la pausa pranzo” ou, em bom português, o menu executivo, inclui uma entrada, a massa do dia e um prato principal. Ao jantar, num ambiente mais intimista, além do menu à la carte, está disponível o menu carta branca de cinco ou seis momentos, seguindo a sintaxe de um verdadeiro menu italiano: antipasto, primo piatto, secondo piatto e dolce, com surpresas pelo meio: “Gostava de poder servir o mesmo a todas as pessoas. O menu carta branca é a experiência mais autêntica e representativa da nossa cozinha e é construído em conjunto com o cliente”.
E por falar em doces, o tiramisú preenche a quota de pratos italianos internacionalmente famosos, e fá-lo de forma exímia: mascarpone, açúcar, gemas e savoiardis caseiros, em vez dos franceses palitos de la reine. O pão e a focaccia também são feitos em casa e o café é de especialidade, colombiano, torrado em Aljezur.
A seleção de queijos e enchidos é 100% italiana, já a vínica, inclui vinhos italianos e portugueses, maioritariamente biológicos ou de baixa intervenção, a copo ou num percurso de harmonização no menu carta branca.
A qualidade da Mavalà não está só na sorte, criatividade e bom gosto do seu chef. O ar descontraído, a pose de artista e a sua humildade, escondem um caminho irrepreensível no mundo da gastronomia.
Davide estudou numa das escolas mais reconhecidas de Itália, a Escola de Culinária ALMA, em Parma: “Fui para o curso de cozinha porque um amigo meu também foi e era uma oportunidade de estar fora de casa. Não tinha consciência da importância de estar ali. Era um ensino exigente, meio militar, mas hoje agradeço aos meus pais a oportunidade. Aprendi muito e o conhecimento está cá todo”.
Seguiram-se várias experiências na restauração, em todos os postos, até chegar a um restaurante de três estrelas Michelin. A vida em Milão não estava favorável para um jovem de 25 anos, impulsionando a sua vinda para Portugal: “Vim sem grandes ambições, mas, rapidamente, percebi que a situação económica estava favorável à restauração. Com menos investimento do que aquele que fiz para comprar o meu carro, abri a Mavalà”.
Davide reconstruiu a sua casa de maneira livre, criando um espaço onde se come bem e é bom se estar. A sua constante presença na sala permite um serviço “costurado à medida”, criando um diálogo entre a cozinha e a sala: “Nesta dimensão pequena, de uma equipa de quatro pessoas, é fácil estarmos próximos das pessoas. No início, cozinhávamos para mostrar conhecimento, para provar algo, agora, fazemo-lo a pensar no cliente sentado à mesa. Eles conhecem-nos e nós temos a noção de quem estamos a servir. A sensação de estarem aqui, como em casa, é a melhor recompensa”.
Osteria Mavalà. Largo da Madalena, 10, Faro. Terça a sábado, 12h00-15h00 e 19h00-23h00. Telefone: 963100473
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