Restaurante Al Sud: onde a vista é servida à mesa, no Algarve

Al Sud: a herança árabe na cozinha algarvia de Louis Anjos

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07/08/2025

Texto: Catarina Moura

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Fotografia: Tiago Pais

No restaurante Al Sud, com 2 Sóis Guia Repsol 2025, o chef Louis Anjos serve o Algarve à mesa com sabores árabes, ingredientes locais e uma vista de tirar o fôlego.

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Aqui a vista é bonita e não é um detalhe. Por isso, o jantar começa com uma fotografia para mais tarde recordar: um instantâneo de flute na mão, com a paisagem ao fundo. A equipa de sala torna-se fotógrafa por minutos e já conhece os melhores ângulos e posicionamento dos modelos — os clientes — para a imagem perfeita ao pôr do sol. A proposta do Al Sud (2 Sóis no Guia Repsol 2025) é inesperada: comer esta vista.

Do alto de Odiáxere, no resort Palmares Ocean Living & Golf, a varanda deste restaurante tem o oceano e a praia à frente e ainda se vislumbra, à esquerda, a ria de Alvor a chegar ao mar. As estrelas do menu de degustação de Louis Anjos vêm maioritariamente destes ecossistemas, sem ser precisa uma peça de carne para ter uma experiência completa e reveladora da região. É assim o trabalho de um chef ribatejano que gosta de ser conhecido pelos sabores algarvios.

O bacalhau é um dos produtos sempre presentes nos menus do Al Sud

A polaroid pousa-se na mesa para lembrar como começou esta viagem. Chegam os primeiros snacks. Há enguia fumada com beurre blanc, um charuto crocante de gamba da costa e camarão ao alho e um taco de carapau alimado e creme de cenoura algarvia que poderia ser, de facto, uma dentada numa sandes simples desta conserva tradicional — ácida, temperada com o doce das cenouras.

Influência árabe e tradição portuguesa: um mergulho no passado

“Um dos nossos temas fortes sempre foi a matriz do Algarve e a portugalidade. Agora começamos a depurar esta matriz e estamos a ir à tradição do Al Andaluz, ou seja, estamos a trazer os citrinos, o salmorejo que na época se fazia sem tomate, as cenouras à algarvia, queremos contar esta história”, diz Louis Anjos, que foi convidado a chefiar o Al Sud desde o início, em 2021.

A combinação de atum, pepino e ostra é um clássico de Louis Anjos, retrabalhado a cada novo menu. A lula com amendoim também está sempre presente

Os últimos anos a esmiuçar a cultura gastronómica do sul do país levam-no agora até ao século VIII, o período de domínio do califado Omíada (do norte de África) sobre a Península Ibérica. Pode parecer longínquo, mas é uma herança e uma influência bem vivas. Seja nos cominhos que temperam as cenouras algarvias, no gosto por citrinos e pelos sabores ácidos, nos doces fritos ou de amêndoas, e até, fugindo para norte, nos cuscus de Vinhais que entram nesta refeição junto a uma caldeirada de cantaril e percebes.

As notas históricas são pontuais e é certo que, para fazer referências a este período num restaurante altamente gastronómico, como o Al Sud (o nome que começa por Al já pedia a homenagem aos antepassados árabes), há que alargar a vista, não ser demasiado restritivo, ser até indulgente — veja-se o prato em que o salmorejo faz companhia ao lavagante e a um sonho do mesmo, ou os vários momentos em que o champanhe é usado para dar uma certa leveza e complexidade aos molhos.

A vista do Al Sud é uma das protagonistas do jantar

Harmonizações inesperadas: vinhos raros, figueiras e soda artesanal

Champanhe, no entanto, só mesmo no prato e a abrir a refeição. De resto, o escanção Nuno Pires prefere o território nacional e é com permanente entusiasmo que apresenta garrafas raras, castas conhecidas ou, nas palavras do próprio, vinhos “inusitados da melhor maneira possível”.

Os casamentos entre o prato e o copo não são sempre os mais expectáveis, pelo contrário: a harmonização é diversa, vai a bebidas com baixo grau alcoólico, como uma soda feita na casa, muito fresca, para acompanhar a sobremesa-ode ao queijo de cabra algarvio, ou o licor de folha de figueira que faz lembrar os xiripitis ao balcão dos cafés e tabernas — aqui acompanham também o café, mas junta-se-lhes petit fours de alfarroba.

O polvo é o prato de conforto que termina o jantar e um cocktail pouco alcoólico é uma das formas de equilibrar a harmonização

Esta flexibilidade e uma maior tentativa de sobriedade (literalmente nos níveis de álcool) é o ar dos tempos no fine dining e o Al Sud acompanha: “Hoje podemos ter um equilíbrio muito maior nas quantidades, na utilização dos açúcares”, exemplifica Louis Anjos que há muito segue a tendência de sobremesas mais vegetais. “O cliente não se quer sentir empanturrado no final da noite”, resumindo.

Assim começam a cair alguns cânones, como aquele que diz que uma refeição de luxo acaba com uma peça nobre de carne. Aqui acaba com o polvo, que faz parte desta vista de mar. Louis Anjos juntou-lhe a batata doce e alguma proteína animal de quatro patas, é certo, mas mais como tempero e referência ao modo de cozinhar na serra, aqui a poucos quilómetros. Este prato leva, por isso, uma redução de pezinhos de porco de fazer colar os lábios e uma trouxa de couve com a mesma carne.

Os bivalves são uma das paixões de Louis Anjos, o ribatejano algarvio

É um momento alto, não só pelo aconchego de final da refeição, mas porque mostra bem como o Al Sud se está a focar nos produtos que tem por perto, no mar e na ria. Aqui o objetivo é passar revista a toda a região e à sua forma popular de tratar a mesa. A cozinha de tacho é um lugar de estudo para Louis Anjos desde que aqui chegou, há 17 anos, e já criou pratos inspirados no que comeu e aprendeu em restaurantes tradicionais como a Tasca do Petrol, em Marmelete.

“Enquanto cozinheiro, quero que as pessoas me conheçam por isto: explorar os produtos algarvios.” Assim se resume uma carreira numa frase. Para o fazer num prato, é provar o clássico que não abandona o menu: lula com amendoim, uma mistura que percorre todas as fronteiras do Algarve e no final deixa água na boca.

Al Sud. Campo de Golfe de Palmares, 8600-250 Odiáxere; de quarta a sábado, das 19h às 23h30. Telefone: 926 292 617

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