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Olhão é Olhão: gerações de pescadores, ruas pequenas e casas aos cubos, ilhas de praia e pesca ao largo, e uma língua própria, orgulhosamente daqui. No centro deste universo diferente de todo o Algarve está o restaurante de cozinha mediterrânica que põe mesas cheias de pratos e pratinhos de vegetais, molhos com influências de todo o mundo, pouca carne e muito peixe dos pescadores da terra. O Cha Cha Cha (Recomendado Guia Repsol) não é um restaurante tradicional, mas tem paixão por Olhão e é “uma carta de amor ao seu mercado”.
Kevin Gould é o dono, um inglês que se tornou olhanense. O seu inglês interrompe-se para deixar passar palavras com sotaque algarvio. Parece que há expressões que ficam melhor ditas em português, como “os camones”, atira Kevin quando fala da gentrificação que a cidade está a viver, por causa do turismo e do investimento imobiliário, mas que parece não pegar da mesma maneira “As pessoas não querem saber se tens muito ou pouco dinheiro, querem saber se és autêntico”, justifica Kevin.
Foi neste cenário que Kevin Gould escolheu viver há cerca de dez anos, quando visitou Olhão pela primeira vez. Durante 20, trabalhou como jornalista especializado em viagens e gastronomia e viajou o mundo todo: “Olhão foi o único lugar onde tive pena de sair”.
Disse à mulher que haviam de se mudar para aqui e mudaram. Em 2018 abriu o Cha Cha Cha e voltou a ser dono de um restaurante e cozinheiro, área em que se formou e trabalhou entre os anos 1970 e os 2000.
O restaurante transporta para o interior a ideia das ruas apertadas e barulhentas, com uma certa confusão aconchegante. Para Kevin, “Olhão está mais perto de Tanger do que de Lisboa, estamos aqui e parece que estamos numa medina”. Esta ligação ao mundo árabe vê-se bem em alguns pratos com hummus ou temperados com za’atar e tahini e que aparecem ao lado de outros de influência mediterrânica, como a pasta de ovas grega taramasalata a acompanhar camarão, os queijos e pestos italianos e a predileção pelos peixes secos e fumados —veja-se a cavala servida com tomate e maionese, os filetes de enguia com maçã e vinagrete de biqueirão ou o atum com laranja, salicórnia e amêndoas.
A carta é uma mistura das influências que, nesta terra, são longas, mas aquilo que poderíamos reconhecer numa cozinha tradicional algarvia também é inspiração. “Não faço essas receitas de um modo tão literal. Se faço uns carapaus alimados talvez use o shoyo de um japonês que está em Monchique a fazer os seus fermentados. Faço um estufado de peixe, mas não lhe chamo cataplana”, exemplifica.
Como não tem grande espaço de armazenamento, Kevin faz e refaz a carta todos os dias quando vai “ao melhor mercado de peixe do sul da Europa e provavelmente de toda a Europa” — o de Olhão, claro. É lá que decide o que se cozinha nesse dia, “tudo simples e respeitando os produtos e os produtores. É só não estragar”. O ex-jornalista não se cansa de falar de olhanenses e dos produtores que vêm dos arredores para fazer a feira de sábado de manhã, o dia em a cidade renova o seu ânimo junto ao ex-libris, o Mercado Municipal.
“O menu é uma carta de amor ao mercado. A nossa ideia de luxo é ter os nossos produtores a 50 metros”. Kevin diz que num restaurante como o seu o mais importante da carta são os produtores e que até podiam estar mencionados, como fazem alguns restaurantes, mas “Olhão é tão autêntico que não posso estar aqui a fazer uma coisa que se pareça com marketing”, reitera.
Depois da ida ao mercado, já de volta ao Cha Cha Cha, se há uma ideia nova para um prato, Kevin prepara-a para Rosali, Daniela, Fábia e Maria Helena, as mulheres que impulsionam a cozinha todos os dias. São elas que adaptam cada receita à realidade do restaurante e do serviço e “a tornam ainda melhor, realmente boa”, diz o dono.
“As receitas não estão escritas em lado nenhum e são coisas simples”, explica. Ainda assim, levou algumas semanas a chegar à consistência das koftas de atum. Com a barriga, lombo e mormos do bicho conseguiram chegar a um equilíbrio de sabor e suculência que nunca mais deixou o menu.
Na sala, é Sónia que faz a casa, põe mesas cheias destes e outros pratinhos e olha pela decoração: uma harmonia de arte entre desenhos de artistas contemporâneos, garrafas antigas de refrigerantes para servir as bebidas da casa, letreiros luminosos, o mosaico hidráulico e um bar com bancos altos que parece sempre ter estado aqui, mas foi colocado por Kevin, depois de ouvir várias pessoas contar como era a sala. “Este espaço estava fechado há 20 anos, mas toda a gente [mais antiga] de Olhão sabia como tinha sido antes”, conta. Com o seu inglês fundido com português algarvio, Kevin faz uma breve arqueologia do sítio: mercearia, frutaria e “the most celebrated casa de meninas de Olhão”.
Na zona da sala ficava uma espécie de taberna mais discreta onde os clientes esperavam antes de subirem aos quartos. “Em Olhão não há estigma em relação a estes trabalhos. Nós conhecemos as pessoas que vinham aqui, há gerações de mulheres que trabalharam aqui”, conta Kevin como um verdadeiro olhanense.
Cha Cha Cha. Travessa do Gaibéu 19, Olhão. De terça a sábado, das 12h30 às 14h e das 19h às 21h. Tel.: 918 727 242
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