Cusco: do Peru para a Gaia, com um travo a Vinho do Porto

Descubra o Cusco em Vila Nova de Gaia

Cusco: do Peru para Gaia, com um travo a Vinho do Porto

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30/10/2025

Texto: Filipa Vaz Teixeira

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Fotografia: Marisa Cardoso

Nem bem peruano, nem bem português. A cozinha do Cusco é o ponto de interceção entre as duas culturas e tem mira apontada para a evolução.

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Cusco é uma palavra que, como tantas, quer dizer muita coisa: é ser-se curioso e metediço, mas também é uma cidade e província do Peru e um grão de farinha de trigo originário de Trás-os-Montes, mais especificamente de Vinhais.

Nesse aspeto, o restaurante panorâmico do hotel Hilton Porto Gaia faz jus ao nome que escolheu, abraçando tudo por igual. É tão peruano como português, é metediço ao ponto de ter bailarinos a dançar pela sala todas as sextas e sábados e é curioso na cozinha, procurando dar novos significados a produtos que nos são relativamente familiares.

A decoração do Cusco, à base de cores e padrões vivos, remete para os ambientes peruanos. A sala de jantar tem 54 lugares

O espaço, inaugurado em agosto de 2024, veio substituir o bar de cocktails Magma que, nas palavras de Eric Santos, era “mais frio”. A esta curiosa observação, inusitada ou não, o Diretor de Food and Beverage do Hilton Porto Gaia acrescenta que o Peru tem uma “cultura incrível a nível culinário” e que não havia nenhum restaurante com esta proposta nas redondezas.

Assim, os tons sóbrios do Magma desvaneceram e deram origem aos padrões e às cores quentes do Cusco, ou não tivesse sido a província peruana fundada graças a uma revelação do deus sol, Apu Inti. No centro do restaurante, suspensa, uma grande escultura de peixe, que se assemelha ao cruzamento entre um pirarucu e um bacalhau, paira sobre os comensais. A fusão, aqui, acontece desde a decoração até ao prato.

Menu do Cusco: uma cozinha em evolução, cheia de pimentas nas mãos

No que diz respeito à ementa, os grandes obreiros do Cusco são os chefs Bruno Rocha, responsável pela operação do grupo Highgate, no qual o Hilton está inserido, e Ana Costa, chef aveirense de 28 anos que é a cara principal do restaurante.

A ela se devem algumas criações da nova carta, como o Cachorro de linguiça e salsicha do Bolhão com maionese diabo (€13), homenageando a febre de cachorrinhos da cidade, a Açorda de tomate e aji rocoto, ovos rotos e cebola frita (€19) ou o Ceviche de camarão com ajo blanco de ananás e maracujá e óleo de manjericão (€18).

Ceviche de camarão com ajo blanco de ananás e maracujá, óleo de manjericão e telha de arroz negro

“Seria injusto fugir às minhas raízes, mas o Cusco foi uma lufada de ar fresco. Aqui há espaço de evolução”, diz, lembrando os primeiros dias na cozinha, em que precisou de trabalhar de luvas para sobreviver ao ardor das pimentas peruanas que lhe passavam pelas mãos.

Grande parte dos produtos que chegam ao Cusco vêm diretamente do Peru, sendo posteriormente transformados pela equipa de Ana Costa. Há o cuidado de não carregar muito no picante, podendo depois o cliente pedir picante caseiro à parte, decisão que aconselhamos vivamente se gostar de sentir as faces rubras e uma boa explosão na boca.

A chef Ana Costa é o principal rosto do Cusco. A carta é da sua autoria e do chef Bruno Rocha, responsável pela operação do grupo Highgate, no qual o Hilton está inserido. No centro do restaurante, há uma grande escultura de peixe a dominar a sala

Sábio será também provar o Arroz criollo de marisco e polvo com aioli de rocoto (€35), que pisca o olho ao socarrat valenciano e alarga as fronteiras desta cozinha; e o Cuscos de Vinhais com pleurotos, mojo verde e frango marinado em anticucho, um molho ligeiramente frutado e fumado (€24).

Pisco sour com Vinho do Porto, porque não?

A carta, dividida em Snacks, Crudos & Ceviches e Plancha, não se fica por aqui e pede para ser partilhada e degustada com vagar. “Não queremos fazer turnos. A ideia é que o cliente chegue e fique o tempo que quiser”, explica Eric Santos, apontando para a vista panorâmica sobre o Douro e a Ribeira, um consolo para os olhos. Consolo igual é a Mousse de Chocolate Negro com Chili da marca artesanal Vinte Vinte, guacamole doce e lucuma (€9). Guarde um espacinho para a sobremesa, não se vai arrepender.

A carta de cocktails, da qual faz parte o Margarida Algarvia Came to Gaia, é um dos pontos fortes do Cusco. Está disponível a partir das 17h30 até à uma da manhã

Ao longo da refeição, a equipa de sala vai sugerindo diferentes cocktails de harmonização, outro dos grandes atributos do Cusco. Tal como em tudo o resto, o cruzamento entre a cultura portuguesa e peruana também se faz sentir aqui: há um pisco sour à moda do Porto, com pisco envelhecido em cascos de Vinho do Porto (€12), uma margarita algarvia com licor de laranja do algarve e mezcal (€13) ou uma chicha morada, bebida de milho peruana, servida com um toque de Vinho do Porto (€6). As escolhas são muitas, entre cocktails com e sem álcool. Vale a pena provar mais do que um.

O Cusco é um restaurante de partilha, para que possa provar vários pratos do menu. Todos os cocktails remetem para algum elemento da cultura peruana, como o Top of the Mountain, a lembrar a Cordilheira Branca dos Andes

O Cusco está aberto todos os dias. Às terças há um Dj na sala, a passar house a um volume de movida; às quartas há música ao vivo e às sextas e sábados, os tais bailarinos, a serpentear pelas mesas. Animação é a palavra de ordem. ¡Haykuykuy!, que é como quem diz em português, Saúde!

Cusco. Hilton Porto Gaia - Rua de Serpa Pinto, 124, Vila Nova de Gaia. 932 413 089. 17h30-23h. Bar aberto até à 01h. Preço médio: €40

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