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O hábito começou nas festas religiosas e por isso se dizia, na Madeira, que comer espetadas era coisa “de festa a festa”. No início do século XX, a carne de vaca não era democrática, mas em honra dos santos mais amados comprava-se um animal e vendiam-se a carne nas barraquinhas das festas nas várias freguesias.
Espetava-se aos pedaços num espeto de loureiro, mais comum do que o de inox, e grelhava-se numa espécie de grelhadores comunitários. Regava-se a festa com a bebida de arraial — o vinho seco, às vezes ácido, cortado com laranjada, quando os refrigerantes começaram a ficar populares.
O prato era cíclico e frugal, mas em pouco tempo foi adotado pelos restaurantes e as espetadas de vaca tornaram-se a especialidade que nenhum local ou turista pode ignorar na ilha da Madeira. O salto para a ribalta aconteceu por volta dos anos 1950 no Estreito de Câmara de Lobos. Aí ainda se comem algumas das melhores espetadas do arquipélago: o Ginja & Petiscos (Recomendado Guia Repsol 2025) faz parte desta história há 25 anos.
Meia hora antes de abrir o restaurante, Vítor Freitas põe a lenha a arder num grelhador engenhoso: o fogo é ateado numa estrutura alta e, à medida que as brasas vão caindo, ele puxa-as para debaixo da grelha. O resto da preparação da espetada madeirense faz-se à vista do cliente.
Vítor tira as peças inteiras de filete, lombo ou T-bone da arca à entrada da cozinha e arranja-as quase no meio da sala com o jeito que aprendeu desde miúdo com o pai, talhante e fundador do Ginja & Petiscos em 2000.
“O meu pai tinha o talho no Funchal. Mas somos daqui e o Estreito de Câmara de Lobos é conhecido pelas espetadas”, conta Vitor. Com uma mão cheia de restaurantes dedicados à mesma arte, há clientela para todos e dá-se proveito à fama que o Estreito tem de capital da espetada.
Quem iniciou a tendência foi Francisco Silva Freitas, nos anos 1950, quando abriu uma pequena taberna sem nome onde vendia as espetadas. De taberna passou a restaurante e os clientes começaram a chamar-lhe “Vides”, numa referência ao que se usava para fazer o fogo.
Os clientes desta casa foram depois abrir outras pelo Funchal e pelo Estreito, os Vides continuam agora também na Rua da Achada, mesmo ao lado do familiar Ginja & Petiscos.
De volta à mesa de corte, Vítor Freitas é o experiente responsável pelas espetadas e é particularmente orgulhoso dos cortes que, apesar de não tão famosos, deliciam os conhecedores: a mendinha com osso ou a costela.
Nesta espetada vêm os pedaços com um osso saboroso de roer e que leva os antigos à maneira tradicional de partilhar uma espetada, dispensando os talheres e tirando pedaço a pedaço com a mão.
Com pouca carne na Madeira atualmente, explica Vítor Freitas, os nacos que corta para cima de um tabuleiro já temperado de sal e alho são sobretudo açorianos. “Isto é uma cozinha simples, o segredo é a qualidade da carne: ser gorda para ser tenra e saborosa”, resume — e parece fácil.
Nesta antiga adega de ginjinha, onde se vendia a dita, além de sidra e vinho da madeira, hoje servem-se almoços de domingo em ambiente de festa. Ainda há uns pipos decorativos, mas não se serve vinho da torneira, o ambiente é completamente amigo da família: confortável e hospitaleiro.
Com pouco turismo, oferece aquela sensação apetitosa de pérola escondida. Na cozinha, Rita e Ascensão tratam do que melhor compõe a mesa madeirense à volta da espetada — uma boa batata-doce cozida e os milhos fritos.
À sobremesa, a estrela é o pudim de requeijão, denso e gordo, como se ainda precisássemos de sustento. Para sair daqui o melhor destino é o Funchal, porque é sempre a descer.
Ginja & Petiscos: Rua da Achada, 13, Estreito de Câmara de Lobos. Todos os dias, das 12h às 16h e das 19h às 23h. Telefone: 291 944 168
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