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Não é um restaurante regional nem de autor. É um híbrido entre as duas cozinhas. Se isso, para alguns, é uma indefinição, para o Mito (1 Sol Guia Repsol) é a certeza de um caminho de experimentação, liberdade e prazer. Tentar de novo, falhar de novo, falhar melhor, diria Samuel Beckett se aqui tivesse reservado mesa, entre os quadros da exposição temporária da artista multidisciplinar Leonor Cunha (ELLEONOR) e a instalação em aglomerado de cortiça da marca portuense Sobri.
“A mensagem que tentamos passar é que estamos em Portugal, mas com uma cozinha diferente da tradicional”, diz o chef Pedro Braga, que, entre risos, lembra que inicialmente sentia a obrigação de fazer tudo. “Depois cresci”. De facto, de 2017 até ao presente, o restaurante passou por diferentes etapas de transformação.
Nada de estrutural, até porque o Arroz de Tamboril e Camarão, com sriracha, caril e ervas, os Croquetes de Boi Velho, com maionese de chouriço de Ponte de Lima e pó de salsa, a Bola de Berlim, com creme de pata negra e bacon, e as carnes maturadas mantém-se fiéis ao menu.
As principais diferenças notam-se na operação – os almoços caíram (exceto ao sábado), para que a equipa tivesse uma “vida mais tranquila” e se pudesse focar nos jantares; e na forma como o Mito se deixou tocar pelos profissionais que por lá passaram, abrindo o léxico gastronómico, sem nunca desvirtuar a sua essência. “Existe abertura para que as pessoas se envolvam. A identidade do Mito passa por trazer para a carta a identidade de cada um”.
Subchefes como João Rodrigues, que atualmente estagia no Mugaritz, no País Basco (restaurante com 3 sóis no Guia Repsol de Espanha) e Mirna Gomes, que depois de três anos no Mito abraçou um novo desafio ao lado do chef Tiago Bonito, no Palacete Severo, deixaram uma pegada importante.
“A fase da Mirna foi das mais bonitas do Mito”, admite Pedro Braga. “Nós os dois tínhamos um registo parecido, mas ela vinha do outro lado do mundo. Isso permitiu-me arriscar em produtos mais caros, que precisavam de mais conhecimento e chegar a pratos complementares”.
Hoje, o que se nota na carta do Mito, é a aposta num menu mais curto, virado para o produto e respeitando “as quatro estações mãe”, diz o chef de 42 anos, que antes de abrir o seu restaurante, liderou o Clérigos (agora Clérigos Cervejaria), e pelas cozinhas do premiado Pedro Lemos (2 Sóis Guia Repsol) e do conceituado chef francês Pierre Koffmann, e liderou o Tenra e o Reitoria, grupo no qual é atualmente consultor.
Olhando para as propostas, saltam à vista a Corvina fumada ou os Rojões. A primeira parece derivar de um quadro de Frida Kahlo, onde o vermelho-púrpura do puré agridoce de beterraba domina a tela. Sobre o puré, estão dispostas fatias de corvina, primeiramente curadas com sal grosso e pimenta Sichuan e depois fumadas.
Pickle de cebola roxa e de mostarda, salada de acelgas, folhas de beterraba, wasabina e shiso (conhecido como manjericão japonês) adornam e adensam o carácter do prato, que nos leva da terra à horta, do doce ao ácido num ápice. É divertido para quem o prepara e para quem o prova.
Já os Rojões, também fumados, repousam numa marinada tradicional durante cerca de 16 horas e são servidos com xerém de berbigão, maçã verde passada em misozuke (uma pasta fermentada de tofu e miso) e jus de porco. É um encontro entre Minho, Algarve e Japão cheio de personalidade, que, depois de degustado, deixa o palato limpo e pronto para a sobremesa.
Neste capítulo, os destaques são o Arroz Doce da avó Elisa, senhora que viveu até aos 103 anos e deixou ao neto Pedro a sua receita de família, e a Rabanada de castanha, feita com massa de brioche, e servida com marmelo confitado em tomilho, laranja e limão, vinho madeira e finalizada com um granizado de queijo da serra.
A ambição é a de melhorar ainda mais, mas isso, diz Pedro Braga, tem estado sempre na mente de toda a equipa. Por exemplo, nos vinhos, departamento liderado por Priscila Souza, será reforçada a primazia dos vinhos biodinâmicos, de baixa intervenção e dos projetos associados a mulheres produtoras.
No campo da sustentabilidade, dar-se-á continuidade ao aproveitamento de desperdícios que tem sido feito até aqui. “O puré de cenoura fumado [do prato Cenoura em misozuke] nasceu das aparas de um outro prato. A partir do labneh, guardamos todo o soro que sai para fazer o flatbread. As espinhas nunca vão fora, extraem-se sempre caldos”, e a lista continua por aí fora, chegando ao entrecôte galego e ao porco preto alentejano, de produção sustentável.
Paralelamente, o Mito retomou a oferta dos seus hambúrgueres, tábua de salvação em tempo de pandemia que, inesperadamente, se tornaram num grande sucesso. “Achei que ia fazer 15 a 20 hambúrgueres por dia, mas foi muito mais”, lembra o também consultor do grupo Reitoria, ao ponto de ter comprado uma maceira maior, para dar conta de toda a massa de brioche que teve de amassar.
Os hambúrgueres Clássico, Bacon cheese burger e Wild Mushroom voltam agora em regime exclusivo de entregas ao domicílio (via Uber Eats) e estão disponíveis durante a época baixa, quando o frio aperta e quando o tv dinner sabe melhor. “Existe claramente a vontade de abrir um espaço de hambúrgueres”, admite Pedro Braga, mas isso só acontecerá com contas estáveis e pessoal suficiente para que o trabalho não se torne num fator de ansiedade crónica. “Ainda hoje fui escalar de manhã com uma pessoa da minha equipa”, partilha. Agarre a agarre, com cordas bem seguras, o Mito vai trepando unido na sua vida tranquila.
Mito. Rua José Falcão, 183, Porto. 19h-23h. Sábado, 12h30-15h e 19h-23. fecha terça e quarta. 222 081 059. Preço médio: €35
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