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Nas primeiras horas da manhã ainda corre um fresco e, por isso, fazem-se umas podas nas laranjeiras ou nas amoreiras. Subimos à cantina, num dos patamares altos da Quinta do Ventozelo. O pequeno-almoço é servido com vista para o grande espetáculo da paisagem do Douro.
Voltamos pelo meio-dia, quando o sol está mais alto do que nunca, as podas têm intervalo para almoço e os trabalhadores descansam debaixo das laranjeiras. A Quinta do Ventozelo é um hotel e um enoturismo, mas antes de tudo isto é uma quinta. Na vinha, no jardim das aromáticas, na horta e até à mesa, o que anima esta terra são aqueles que a trabalham.
Há sempre muito a acontecer nestes 400 hectares com vista para o Pinhão. O nome deste alojamento denuncia-o: Ventozelo Hotel & Quinta. Chegar a esta propriedade da Granvinhos é ser recebido como já foi tradicional nas quintas do Douro: no meio da atividade contínua e com uma grande travessa de arroz de favas ou tomate, conforme a altura do ano.
O restaurante Cantina de Ventozelo é uma espécie de ponto de fuga da propriedade. Quando viramos as costas ao rio, o olhar converge para o grande edifício, onde já almoçavam os trabalhadores da quinta no século passado. Agora dão-se os almoços e jantares com o que é colhido na horta, um patamar abaixo.
José Guedes, o chef, é discípulo de Miguel Castro e Silva, nome incontornável da construção de uma cozinha portuguesa contemporânea, mas o almoço aqui é cozinha tradicional (de dia de festa, claro).
A vontade de apresentar uma experiência real da vida de uma quinta duriense era tão forte que, na abertura deste restaurante, o almoço só tinha uma sopa de substância, um prato de peixe e um de carne, tudo em doses de travessa.
Ao almoço, o menu vai mudando com a estação e é mais direto ao assunto, com uma massa meada com legumes, arroz de peixes do rio ou javali estufado. É ao jantar que o ambiente se requinta — as mesas ganham toalhas e luzes baixas — e serve-se uma versão contemporânea do produto local, seja nuns cuscos de Vinhais com cogumelos e ovo, numa salada de beterraba, queijo de urtigas e amêndoa ou numa truta curada com escabeche de legumes da horta.
Quando o menu parece querer dar-nos um prato mais rústico, como vitela com puré ou bacalhau com migas de grão e couve, José Guedes aromatiza o puré com açafrão e serve o bacalhau com uma emulsão de ervas. “É complexidade com o traço português e da horta”, resume o cozinheiro.
A horta é, de facto, a estrela das refeições na Cantina do Ventozelo. Descendo umas escadas da varanda do restaurante, entra-se pelo laranjal onde agora crescem também amoreiras para construir sombra. Esta foi a opção do arquiteto paisagista, João Bicho, para manter as árvores existentes e fazer a passagem para uma horta em quatro patamares.
“O segredo foi ler o local e não levar o projeto à risca. Havia um conceito de horta e a ideia foi usar a pré-existência”, explica João Bicho. Por isto não se deitou a abaixo um muro — plantaram-se figueiras à sua frente para o tapar e servirem e proteção — e escolheu-se uma passagem de água já existente nesta área para as culturas de tomate coração de boi (uma pepita do Douro), todo o tipo de couves e folhas verdes, beterrabas e courgetes, morangos, e o que se queira mais.
Todas convivem com flores que chamam polinizadores, mas também afastam pragas. A vantagem revela-se em dose tripla, percebemo-lo ao provar ao pequeno-almoço o mel das abelhas do Ventozelo.
Marco e Cristina Sousa tratam das cerca de 100 mil abelhas e entregam uma parte do mel que produzem ao Ventozelo. Já o pai de Cristina, Fernando Jesus, de quem herdaram as abelhas e o ofício, fazia o mesmo neste terreno há 30 anos, antes da quinta ser comprada pela Granvinhos, em 2014.
Hoje o trabalho na quinta é cada vez mais, o casal está prestes a ganhar novas colmeias para criar e assim vai aumentando a produção de mel de rosmaninho, silva ou esteva. As abelhas que continuam a laborar estão mesmo aqui ao lado e estes apicultores juram que não fazem mal. É outra forma de provar o território e que vai além dos vinhos, matéria que é sempre a mais expectável por aqui.
“Sempre que vejo que há uma coisa nova na quinta penso: o que fazemos com isto? Temos de aproveitar”, diz João Paulo Magalhães, diretor do hotel, enquanto guia um jipe às alturas das vinhas, de onde a vista sobre as curvas do Douro se supera.
De facto, este hotel parece querer ser mais do que a vista da piscina infinita e o conforto dos 29 quartos instalados nos edifícios originais da quinta: há uma mercearia com os vinhos da quinta — vários monocastas, o que é relativamente raro nesta região —, com azeites, o mel e chás cultivados no terreno.
Num centro interpretativo conta-se a história da região do Douro a partir da história desta quinta com mais de 500 anos; nos quartos há sabonetes com os cheiros do Ventozelo, inspirados das flores do espaço. É o “luxo do simples”, resume o diretor deste enoturismo.
Nesta recente encarnação em hotel, a quinta está viva. É verdade que se embelezou para receber, com quantos bancos em zonas de miradouro e pérgolas em pequenas clareiras onde fazer piqueniques e mergulhar no rio.
No entanto, o trabalho agrícola continua e são ainda os trabalhadores com os seus ritmos quem marca o passar do dia e das estações. Com paragem ao domingo, claro, para os clássicos dos almoços de família — o polvo, o cabrito e o bacalhau, às vezes no forno a lenha.
Cantina de Ventozelo: Quinta do Ventozelo, Ervedosa do Douro. Todos os dias, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h. Tel.: 254 249 670.
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