
Desculpe, não há resultados para a sua pesquisa. Tente novamente!
Adicionar evento ao calendário
Nasceu no final dos anos 1950 para ser o grande hotel de Lisboa e continua a disputar o título. O Ritz, no alto do Parque Eduardo VII, vê mais de Lisboa do que o Marquês, lá em baixo na rotunda. A localização é luxuosa, tal como a arquitetura, os materiais e o serviço.
Esta caixa revestida a mármore, relativamente óbvia por fora, está cheia de pormenores surpreendentes por dentro. Fizemos uma viagem dentro do Ritz e, em cinco paragens, descobrimos uma coleção de arte única, fine dining que explora os produtos portugueses e uma pista de corrida perto das nuvens.
Este paralelipípedo no alto da colina parece austero à primeira, mas logo à entrada, por entre os pilares que o fazem flutuar, torna-se acolhedor. O desenho de Porfírio Pardal Monteiro é um compromisso entre as ideias de Le Corbusier, que inspiraram boa parte da reconstrução da Europa no pós-II Guerra, e o Estado Novo português, um casamento entre o movimento moderno e a tradição.
Nos anos 50, Salazar foi convencido de que Lisboa precisava de um grande hotel, um lugar digno de receber a elite europeia. Reuniu os capitalistas do regime, ofereceu-lhes condições muito vantajosas e juntos formaram a sociedade que construiu o Ritz.
Apesar de ser uma obra de regime, o seu traço moderno não agradou a Salazar que, conta-se, entrou no Ritz apenas uma vez, antes da inauguração, e saiu pelas cozinhas. No banquete de inauguração, o ministro da Presidência, Pedro Teotónio Pereira, avisou que a brincadeira não era para repetir: tolerava-se este edifício aqui, por ser uma zona nova da cidade.
O luxo que está visível logo à entrada também não terá caído bem ao ditador — mas era para isso mesmo que se construía o melhor hotel da cidade. A sala de entrada, revestida a mármores, madeiras, alcatifas e poltronas, ainda é uma memória do que podia ser o deslumbramento de entrar no conforto e gosto Europeu em plena Lisboa atrasada.
Uns passos à frente, entramos no salão Almada Negreiros, onde as árvores de orquídea enchem o espaço e dão trabalho diário aos jardineiros. Mas é nas paredes que estão três obras-primas da tapeçaria portuguesa: os centauros de Almada Negreiros.
À boa maneira moderna, as artes decorativas fazem parte deste projeto e o Ritz juntou os grandes nomes portugueses do seu tempo. Andar por estes corredores e salões é caminhar num museu do modernismo, de que Almada Negreiros é o nome cimeiro.
Com o ponto único desenvolvido pelas Tapeçarias de Portalegre, o artista conta, no seu traço cubista, o romance muito humano de dois centauros: primeiro a sedução, depois o abraço fogoso e, no final, à noite, o contorcimento do abandono.
Noutros trabalhos para edifícios de Pardal Monteiro, Almada Negreiros foi mais sóbrio, mas deu-se a estas liberdades no hotel que parecia ter um salvo conduto no meio do regime. Noutro mural que também assina, perto desta sala, desenha uma ceifeira a dormir a sesta no meio do trigo enquanto é espiada por um homem. Desenhou-o numa coluna apenas ligeiramente afastada da parede do mural e, assim, o traço dourado no mármore preto ganhou tridimensionalidade.
No Ritz há 16 elevadores, mas apenas quatro são para os hóspedes. Os restantes 12 são elevadores de serviço e fazem parte da complexa máquina de bastidores que põe o Ritz a trabalhar.
A melhor expressão disto é a rede de cozinhas e copas instalada debaixo das áreas da receção e com ligação ao Varanda, o restaurante original do hotel, onde ainda se tomam os pequenos almoços diariamente, se servem pratos requintados e se toma brunch ao fim de semana.
Nas cozinhas trabalham 60 pessoas e é possível pedir uma refeição a qualquer hora do dia. Mesmo de madrugada será entregue, à antiga, num carrinho com toda a pompa.
Às horas mais ortodoxas, o Varanda continua a ser um espetáculo, ou não tivesse sido decorado por Lucien Donnat, cenógrafo colaborador do Teatro Nacional D.Maria II. Desenhou estes móveis, colunas, escolheu as cores e os artistas de algumas peças, como o lavatório com dois cavalos marinhos de Lagoa Henriques.
Não foi só Salazar que não gostou do brilho e modernismo do Ritz. O insuspeito Nikias Skapinakis, pintor da segunda metade do século, achou-o uma manta de retalhos. Nestes salões e corredores cruzam-se Sarah Affonso, Estrela Faria, Barata Feio, Joaquim Correia, António Duarte, Carlos Botelho e não parecem ter tido restrições aos estilos ou aos temas.
Referências neo-clássicas, baixos relevos, tapeçarias e umas quantas pinturas ganharam uma sintonia intemporal que em 1959 não se conseguia ver. A icónica escadaria para o salão de baile — praticamente aristocrática — marca um desses encontros que terá chocado: Pedro Leitão e Querubim Lapa.
A parede em laca dourada com altura de dois andares e bambus em madrepérola é o mural mais conhecido do hotel e sublinha a sumptuosidade do salão que ganhou o nome do autor, Pedro Leitão. A obra ilumina o espaço e casa com os cristais dos grandes lustres.
Mais discreta, antes de subir as escadas, está a curiosa coluna do grande ceramista português do século XX, Querubim Lapa. Revestiu-a em cerâmica, com caras, folhas, formas orgânicas e, claro, o seu vidrado de assinatura, cuja receita manteve sempre secreta: um verde-azul especial que os lisboetas têm na retina por causa das inúmeras intervenções de Querubim Lapa no espaço público.
Com porta junto à entrada do hotel, a decoração do Cura é um projeto bem mais recente do que os nomes sonantes do século passado. Abriu em 2020 com a mesma nobreza nas escolha dos materiais — as pedras naturais, os metais e madeiras — e na arte — veja-se o painel de madeira com marchetaria. Ao fundo, uma cozinha aberta e pequena de onde saem menus de degustação dignos de dois Sóis Repsol.
Rodolfo Lavrador é o chef deste fine dining com dois menus de degustação: o Percurso, uma viagem mais longa com grande variedade de técnicas e produtos, e o Passo, um resumo dessa viagem maior. “São menus como gosto de cozinhar, com fator emocional, ligação a casa, produto português que dão ênfase às diferentes regiões de forma divertida e supreendente”, explica.
As surpresas podem vir das combinações, como uma ostra com cereja do Fundão, da descoberta de um produto tradicional que nunca se provou, como o feijão bago de arroz, ou de um outro ingrediente mais exótico, como a flor de Sichuan que deixa a boca dormente na sobremesa de creme de camomila e ananás.
Claro que os clássicos portugueses vão aparecendo. Há uma açorda de marisco em que o camarão se tornou carabineiro, ou não estivéssemos num hotel digno de contos de fadas.
A sugestão deste terreno para a construção do Ritz foi do próprio arquiteto. No projeto, Pardal Monteiro chegou mesmo a comparar a posição do hotel perante a cidade à do Parthenon sobre Atenas na Grécia Antiga: os edifícios marcantes da cidade ficam ao alto, visíveis de todos os lados, argumentava. Além disso, daqui admira-se também todo o redor: é assim no terraço do Ritz.
Não é, no entanto, um miradouro – é mais um ginásio. No topo do edifício está uma pista de atletismo de 400 metros para correr a olhar os bairros e alongar com os olhos no rio. Mesmo por cima das cabeças dos atletas impõem-se o neon há mais de 60 anos inesquecível: Ritz em azul gigante.
Four Seasons Hotel Ritz Lisbon. Rua Rodrigo da Fonseca 88, Lisboa. Telefone: 213 811 400
Cura. Four Seasons Hotel Ritz Lisbon. Todos os dias das 19h às 22h30. 21 381 1401
Em geral… como classificaria o site do Guia Repsol?
Dê-nos a sua opinião para que possamos oferecer-lhe uma melhor experiência
Agradecemos a sua ajuda!
Teremos em conta a sua opinião para fazer do Guia Repsol um espaço que mereça um brinde. Saúde!