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Longe da praia, perto do coração — é assim que o ditado se diz no Algarve. Quando o verão aperta, esta cidade junto ao barrocal algarvio não perde o charme.
Pelo contrário: é um excelente refúgio das multidões, sem perder a animação de uma cidade viva e uma óptima paragem para encontrar um Algarve entre a tradição e a inovação. Antes de nos metermos pelas suas ruas históricas, entramos no carro para olhar Loulé do alto.
Na subida para Tôr vê-se um clarão branco de casas no meio do barrocal. É uma mancha inspirada nas aldeias algarvias, mas distingue-se pelas as proporções agigantadas das casas, os seus recortes direitos e arredondados das varandas. O Viceroy at Ombria Resort é, para já, um pequeno resort (com intenções de crescer no futuro) e que desfruta da longa e verde paisagem entre a serra e o mar.
Com um spa com vista para a natureza, campos de golfe, e apartamentos com piscina privativa, o luxo deste hotel é bem claro. A tarefa do chef executivo Pedro Pinto foi trazer a este ambiente ideal e exclusivo a trivialidade algarvia dos seus produtos e receitas: “A prioridade era valorizar o nacional e refletir o Algarve”, diz sobre os vários restaurantes do resort.
No Ombria Kitchen “fiz força para que fosse 100 por cento português”, diz — e é isso que se vê numa carta com arrozes para partilhar, sopa de peixe e caldeirada. “Sem pudor de servir o que é português, negar a tendência de fazer o que é estrangeiro. O porquinho com o chouriço a arder é uma coisa corriqueira para nós, mas quando vem para uma mesa, com a chama, toda a gente pede”, conta.
Dentro da obediência ao produto português, Pedro Pinto criou um “gastrobar de terroir”, o SolaLua. Aqui, as ervas aromáticas locais estão nos cocktails em força e na carta as estrelas da região têm casamentos inesperados: a ostra da Ria Formosa dá-se com pêra e gin, a gamba vermelha com amêndoas doces, a lula com alho negro.
É a experiência mais gastronómica do hotel e este ano está a ser elevada por uma série de jantares a quatro mãos. Até ao final do ano, Pedro Pinto cozinha com Henrique Sá Pessoa (restaurante Alma, 2 Sóis Guia Repsol, 11 e 12 de julho), Alexandre Silva (Loco, 12 e 13 de setembro) e Louise Bourrat (Boubou’s, 1 Sol Guia Repsol, 7 e 8 de novembro) nos jantares Eclipse.
Com uma vista destas sobre o Algarve — a partir da mesa e da janela – Tôr é um bom ponto de partida para Loulé. Do resort desçamos à realidade ao entrar em ruas apertadas e furar o burburinho desta cidade que não precisa de praia para se manter vibrante. Veja-se a avenida principal — ou melhor, a praça, como lhe chamam os louletanos desde os tempos medievais.
Viceroy at Ombria Resort. Rua da Ombria, 9, Tôr – Loulé
A estátua de um poeta sentado na esplanada de um café fica sempre bem — pelo menos se o poeta tiver de facto frequentado aquele café. É o caso de António Aleixo sentado à porta do Café Calcinha, o histórico café louletano na Praça da República.
Aleixo foi um dos seus ilustres frequentadores, tal como a burguesia e elite intelectual da terra que, desde os anos 1920, fazia aqui as suas tertúlias. O interior conserva o estilo art déco dessa época, com o chão em mármore, o mobiliário e painéis em madeira e os janelões com vidro martelado.
A carta mudou — o brunch chegou ao Café Calcinha — mas mantém-se uma boa variedade de chás e bolos à fatia que reúne os louletanos à tarde para continuar a palheta de há quase um século. Em 1929, este ponto de encontro foi inaugurado como Café Central, mas rapidamente foi batizado pela cidade com a alcunha do seu proprietário, José Domingos Cavaco, o Calcinha.
Café Calcinha. Praça da República 67, Loulé
As bancas de peixe conseguem ser tão bonitas quanto a arquitetura deste mercado. O edifício do início do século XX é um dos incontornáveis no centro de Loulé e marca qualquer passeio pela Praça da República com o seu revivalismo da estética islâmica.
Arcos em ferradura vermelhos dão a entrada para um pé direito alto com a estrutura em metal típica da época e a sua consequente barulheira — especialmente às primeiras horas da manhã.
A entrada principal convida a levar umas lembranças algarvias — doces finos, figos e amêndoas, vinhos — e é na ponta oposta que estão as impressionantes bancas de peixe. Os delicados filetes de sardinha, o vermelho vibrante dos camarões e os chocos raiados parecem ter sido postos aqui como decoração.
Mercado Municipal de Loulé. Praça da República, Loulé
Numa esquina recatada do banzé da Praça da República, está desde 1984 o Bocage. É um retiro familiar, com as suas salas aconchegantes de luz baixa, uma pequena esplanada, e a ementa faz justiça a esta ideia: os pratos do dia são uma opção segura, sempre com um ou outro ícone do Algarve, como a carne de porco com amêijoas ou o peixe frito com umas papas de milho deliciosas.
Qualquer que seja a sugestão do dia, vale a pena emparelhá-la com um bife de atum à algarvia — generoso na cebolada e cozinhado com sabedoria.
Restaurante Bocage. Rua Bocage 14, Loulé
Loulé é orgulhosa do seu passado islâmico e uma prova disso é a recente abertura dos antigos banhos islâmicos como museu arqueológico. Em menos de meia hora percorrem-se cinco séculos de história através das peças encontradas na cidade, marcas da ida Al-’Ulyà, a cidade islâmica do século XII que antecedeu Loulé.
Deste edifício mantiveram-se visíveis as ruínas do hamman, os banhos públicos para purificar o corpo e o espírito, com uma complexa organização de salas que fazia os utilizadores transitar entre ambientes frios, tépidos e quentes.
Com alguns vídeos que recriam o hamman, junto às ruínas identificam-se as caldeiras subterrâneas que aqueciam o chão, imaginamos as chancas de madeira que se usavam para não queimar os pés e podemos até cheirar as ervas e os óleos essenciais usados aqui. À saída, no pátio protegido por treliças, há limoeiros e amendoeiras — outra herança desse passado.
Banhos Islâmicos de Loulé. Rua Garcia da Horta 4, Loulé
Ninguém diria que Leandro Araújo nasceu do outro lado do oceano. Chegou em criança do Brasil e encontrou no Algarve a sua terra, nos produtos da região a sua paixão: é o que mostra o menu do Cafezique.
Desde 2020 que emprega a criatividade nos produtos algarvios — não dispensa a amêndoa tradicional, mais crocante, roliça e intensa do que a americana, ou o litão que caiu em desuso.
O serviço de vinhos atencioso de João Valadas encarrega-se de fazer uma viagem mais alargada, por todo o país, enquanto, no prato, se conhece uma cozinha algarvia tornada contemporânea.
Em dois menus de degustação (um de seis momentos, outro dez) ou à carta, finta as receitas tradicionais: faz pasteis de massa tenra com caril, pontua com molho holandês o arroz de enchidos mais guloso e viciante da região, junta à sobremesa de chocolate o avinagrado da cabidela e serve uma torta de amêndoa que podia ter saído das mãos de uma avó louletana se não tivesse um travo fumado.
São provocações sem confusão no prato, nem exibicionismos: apenas técnica e sabor.
Cafezique. Rua das Bicas Velhas, Loulé
Alguns passos à direita do Cafezique há uma oficina de caldeireiros; para a esquerda está a olaria Xavier e, se entrarmos pelas ruas mais estreitas, nas costas do antigo Convento do Espírito Santo, está a Casa da Empreita, onde estão sempre mulheres a trançar palma para fazer malas, cestos ou objetos decorativos. Estas oficinas fazem parte da rede de oficinas Loulé Criativo, que incentiva a continuidade e divulgação destes artesanatos.
Além dos mais característicos trabalhos do Algarve, estão ainda abertas para visita do público a oficina de relojoeiro e dos cordofones, sempre com alguém pronto a dar dois dedos de conversa sobre estas manualidades.
Este projeto ganha uma outra dimensão no Palácio Gama Lobo, onde são expostos frequentemente trabalhos de artistas contemporâneos inspirados nestes saberes antigos.
Loulé não tem praia, mas tem peixe — e excelente peixe. Essa foi a razão para que Hiroshi e Shogo, dois amigos japoneses, abrissem aqui o seu sushi bar.
Vale a pena registar estas palavras — sushi bar —, porque há mais que comer no Artigo três, desde sequíssimas frituras, saladas gordinhas de camarão e maionese, cashu (uma barriga de porco marinada e cozinhada no forno) ou tokoyakis (bolinhas de massa salgada recheadas com polvo, por exemplo).
No entanto, aquilo que agarra o nosso coração é o sushi, por causa do peixe fresquíssimo ou ligeiramente maturado, a evidenciar a sua gordura. A carta muda todos os dias segundo a disponibilidade do mar e do Mercado Municipal.
Como dizer que não a ricas fatias de toro (a barriga do atum), a um carapau ou a um sarrajão tratados com mestria? Ainda não há resposta.
Artigo Três. Avenida Marçal Pacheco 3A, Loulé
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