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O Nobre: mesa do poder há 35 anos

Cozinha portuguesa sem vergonha no Nobre, em Lisboa

O Nobre: mesa do poder há 35 anos

14/10/2025

Texto: Catarina Moura

Fotografia: Ana Brígida

Justa e José Nobre são o casal mais icónico da restauração nacional. A cozinha de primeira e a simpatia juntam-se para receber a elite e todos os outros.

No final dos anos 1980, José Nobre subia a escadaria da Assembleia da República sem saber muito bem como fazer o que queria fazer. À entrada, a segurança disse-lhe o previsível, que não podia estar ali, mas José Nobre lá foi andando com a conversa, disse-lhe que precisava de falar com o chefe dos contínuos. “Com o Sr.Delfim?’ — ‘Exatamente, com o Sr. Delfim’, eu não fazia ideia de quem era o Sr. Delfim”, conta mais de 35 anos depois.

A ideia tinha sido do contabilista do seu restaurante, o Constituinte, na rua de São Bento: era preciso ir à Assembleia da República convidar os deputados a visitar o restaurante. Assim poderia tirar verdadeiro partido da localização e ter a casa sempre cheia. José Nobre não estava convencido com a ideia e, quando se encheu de coragem, foi com o Sr. Delfim que se aconselhou.

Convidou-o a jantar no Constituinte, “para ver se estava à altura dos nossos deputados”, e depois de passar nessa prova o funcionário aconselhou-o: “Escreva uma carta a apresentar o seu restaurante, eu dou-lhe os tópicos, faça 250 cópias”.

Há 35 anos que o Nobre é um restaurante de e para a família
Há 35 anos que o Nobre é um restaurante de e para a família

Abrir um restaurante perto da Assembleia não tinha a intenção de servir as mais altas figuras de estado e a classe política. “Era o espaço que podíamos pagar”, diz Justa Nobre, mas foi essencial para conquistar a clientela ilustre que o casal cultiva até hoje no restaurante com o apelido como nome próprio.

Este é o restaurante da família há 35 anos, conhecido por ter sido a sala de jantar de todos os partidos democráticos, de Mário Soares a Passos Coelho. Incontornável na cozinha portuguesa, com o traço criativo de Justa Nobre, e uma lição de bem-receber: o Nobre é uma instituição.

Do Constituinte ao Nobre

O restaurante Constituinte foi uma espécie de proto-Nobre. Durou dois anos, mas rapidamente se tornou famoso entre deputados e com uma coluna de Manuel Luís Goucha no Olá Semanário a notícia espalhou-se; com uma crítica no Expresso, por José Quitério, apareceram as filas à porta. A clientela ficou tão agarrada pelo estômago e pela simpatia e descrição do serviço que, em 1990, não se importou de passar a atravessar Lisboa para ir ao novo restaurante do casal, O Nobre, na Ajuda.

“Quando chegámos ao espaço, parecia uma casa de meninas”, brinca José Nobre lembrando a decoração pesada, cheia de cortinas, e os muitos “privados”, salas para pequenos grupos. Depois de uma decoração nova, abriu para receber empresários e toda a classe política — na caderneta de cromos faltava só Mário Soares, o Presidente da República, que José Nobre já tinha convidado.

Privacidade e simpatia sempre foi a etiqueta da casa. Justa Nobre, à esquerda, tomou as rédeas de uma cozinha tradicional irrepreensível
Privacidade e simpatia sempre foi a etiqueta da casa. Justa Nobre, à esquerda, tomou as rédeas de uma cozinha tradicional irrepreensível

Apareceu sem aviso em 1991 e, por acaso, havia mesa. Uns dias depois, já não se repetiu a sorte. “Fiquei a sentir-me tão mal por mandar embora o Sr. Presidente, que nessa tarde fui falar com a secretária dele. Ela disse-me ‘não se preocupe com desculpas. Ele já mandou reservar mesa para a semana”, relembra o dono do Nobre.

“Houve um mês em que o doutor Mário Soares foi lá 20 e tal vezes”, conta Justa Nobre, recordando que gostava de pratos simples — antes do Fortimel de Rebelo de Sousa, umas iscas eram um prato perfeitamente presidenciável.

Mestre do serviço de sala

No Nobre da Ajuda e no do Campo Pequeno, para onde o restaurante se mudou nos anos 2000, José Nobre ouviu fechar negócios, debater assuntos de Estado e tricas partidárias — algumas de lhe fazer cair o queixo e arregalar os olhos mesmo à frente dos protagonistas.

Estes clientes nunca se calaram na sua presença, sempre confiaram na sua descrição. “Houve quem ganhasse fama por tirar fotos com toda a gente, nós ganhámos fama por não tirar fotos com ninguém”, resume Justa Nobre.

Nobre, um apelido de peso na restauração nacional, reinventou-se no Campo Pequeno nos anos 2000
Nobre, um apelido de peso na restauração nacional, reinventou-se no Campo Pequeno nos anos 2000

A privacidade sempre foi etiqueta da casa, mas também a simpatia do serviço para doutores, engenheiros e arquitetos — “sempre aprendi a tratar assim os clientes”, diz José Nobre — ou para os curiosos com a cozinha da chef da televisão, à procura de uma noite especial.

“Lembro-me de uma mesa que pediu a sopa de santola e dividiram um prato. Apercebi-me que alguém fazia anos e disse ao chefe de sala que lhes fosse oferecer um bolo de anos. Nós não sabemos os sacrifícios que as pessoas fizeram durante o mês para vir aqui. Venham com promoções e descontos ou não, eu tenho de receber sempre bem as pessoas”, diz José Nobre.

Com esta filosofia, os restaurantes do casal fizeram escola no serviço de sala e José Nobre é, para muitos, o mestre deste assunto no país. Mas o que primeiro agarra os clientes a um restaurante é a comida: aí não há volta a dar, diz Justa Nobre.

Cozinha portuguesa sem vergonha

Nem com a entrada em cena das tendências internacionais e dos produtos estrangeiros Justa vacilou na sua ligação à cozinha portuguesa e na inspiração que uma visita ao mercado lhe podia trazer.

“Sempre fiz cozinha portuguesa sem medo de fazer cozinha portuguesa, porque comecei a perceber que, com as mulheres a trabalhar, ninguém comia estas comidas em casa. Nos anos 90, o que era de fora é que era bom, mas eu tinha a casa cheia para comer a minha cozinha portuguesa”, declara.

Agora como antes: José e Justa Nobre, à frente, sentados, e Ana e Paulo Graça, atrás, de pé.
Agora como antes: José e Justa Nobre, à frente, sentados, e Ana e Paulo Graça, atrás, de pé.

Justa Nobre nasceu numa família de sete irmãos, na aldeia de Vale de Prados, em Trás-os-Montes, e foi por acaso que se tornou cozinheira. Ajudou ser, entre todos os manos, a que mais gostava de cozinhar e, quando chegou a Lisboa — como tantas jovens do interior nos anos 1970 — casou-se jovem e ganhou fama de boa cozinheira em casa.

Foi o patrão de José Nobre que, em 1978, decidiu que Justa ia chefiar a cozinha do seu novo restaurante, o 33, junto à Avenida da Liberdade. Justa tinha 21 anos, uma idade de inconsciências, segundo a própria. “Não queria ficar mal. De tarde imaginava os pratos que ia fazer à noite”, conta.

Assim evoluiu e criou, entre outros pratos, o que viria a ser o emblema da sua casa, a sopa da santola. “Em todo o lado havia sopa de marisco, mas eu não gostava de nenhuma”, conta. Com a tal inconsciência da idade, comprou as santolas que viu na praça sem nunca as ter cozinhado. Fez a sopa e perguntou ao marido, que fazia o serviço de sala, “quem é que está aí de importante para provar?”. Até hoje não foi preciso mudar muito nessa primeira tentativa.

A sopa de Santola é um dos emblemas da casa
A sopa de Santola é um dos emblemas da casa

No Nobre (1 Sol Guia Repsol 2025), pode haver na mesma ementa uns rolinhos de vitela ou de linguado, uns canelones de sapateira com manga e uns butelos com casulas de Trás-Os-Montes, uma cataplana de peixe ou uma coxa de galo do campo. “Não tenho problemas nenhuns em cozinhar aquilo que me apetece. Eu faço uma jardineira — que as pessoas acham que é cozinha de restos — e vende. Faça umas pataniscas ou uma lagosta flamejada, os meus pratos saem”, afirma.

O que em casa é prato de aproveitamento, aqui faz-se com ingredientes de primeira, com mão de cozinheira afoita e conhecedora. Na sala está um gentleman à portuguesa. É a receita para fazer um restaurante histórico em Lisboa.

O Nobre. Av. Sacadura Cabral 53B, Lisboa. Todos os dias das 19h15 às 23h; de domingo a sexta, das 12h às 15h. 217 970 760.